Professor Associado: A luz no fim do túnel para a pós-graduação stricto sensu na UPE
Prof. Raphael Mendes Ritti Dias*
Os critérios estabelecidos para a progressão para o cargo de professor associado têm suscitado intensas discussões na comunidade docente da UPE. Não era para menos! Ao contrário de todas as etapas da carreira acadêmica, os critérios para essa progressão não são universais. Ninguém discute que um professor especialista deve ser enquadrado como auxiliar, que o mestre seja assistente e que o doutor seja adjunto, mas para o associado não existe uma titulação específica. A definição dos critérios de progressão é específico pode ser definido em cada IES de acordo com as suas características e principalmente suas fragilidades. Por isso, “importar” critérios de outras IES para a UPE é algo que não resolverá nossos problemas específicos na pós-graduação stricto sensu.
Inicialmente, é necessário entender que o estabelecimento de critérios é necessário. Se não houver diferenças entre os cargos de adjunto e associado não há razão para o segundo existir. Seguindo a lógica dos critérios necessários para progressão da carreira dos professores auxiliares, assistentes e adjuntos parece claro que a progressão para associado deva seguir caminho similar, ou seja, essa progressão não deve ser automática (por tempo de serviço) e deve contemplar o atendimento a algumas exigências. Para tornar-se especialista é necessário cursar disciplinas e defender uma monografia. Para tornar-se mestre é necessário ser admitido no processo seletivo, cursar créditos e defender perante uma banca uma dissertação. Para tornar-se doutor as exigências são ainda maiores, pois além das disciplinas, realizar um trabalho original, esse trabalho necessita ter muito mais profundidade. Seguindo essa lógica, a progressão para professor associado deveria representar um desafio ainda maior. Nesse ponto, acho que os critérios estabelecidos atualmente são coerentes com a “progressividade dos desafios” da carreira acadêmica.
O que diferencia um professor doutor de um professor mestre é que o doutor, além de ministrar aulas na graduação (auxiliando na formação básica dos futuros profissionais), possa fundamentar a formação científica dos discentes. O doutor pode atuar apenas na graduação ou pode, além de atuar na graduação, atuar na pós-graduação stricto sensu. É inquestionável que a segunda opção demanda um aumento na carga de trabalho exponencial. O docente que atua no stricto sensu ministra disciplinas mais profundas, assume orientações mais complexas, deve produzir post_contents científicos, deve captar recursos para conduzir as pesquisas, deve gerenciar a compra de equipamentos e as devidas prestações de contas, liderar grupos de pesquisa, entre tantas outras atividades. Ou seja, é necessária uma dedicação intensa! O mais interessante é perceber que a opção por se vincular à pós-graduação stricto sensu é voluntária e nos moldes atuais não tem qualquer repercussão acadêmica ou financeira para o docente. Acho desnecessário discutir a importância dos programas de pós-graduação stricto sensu, não só na UPE, como na região Nordeste e no Brasil. Além disso, sabemos que a quantidade e qualidade dos cursos stricto sensu da UPE são inferiores ao que desejaríamos. Devido a isso, estamos correndo o risco de perder o status de Universidade. A grande questão é como fazer com que esses programas nasçam e sobrevivam sem valorizar os docentes vinculados aos programas. Temos observado nos últimos anos uma debandada da UPE dos professores doutores que atuam no stricto sensu, o que pode ser atribuído à falta de perspectivas na carreira acadêmica existente na UPE em comparação a outras IES.
Os critérios estabelecidos na UPE para a progressão para professor associado envolvem várias atividades, dentre as quais estão a publicação de artigos em periódicos qualificados, a orientação de alunos de mestrado, a captação e execução de projetos financiados, a obtenção de bolsa produtividade em pesquisa e a atuação em cargos de gestão. Exceto pelos dois últimos que são mais restritivos, os outros três critérios são extremamente alcançáveis para quem está atuando no stricto sensu. Os três estão amplamente interligados. É difícil conseguir financiamento ou orientar alunos sem produção acadêmica. Obviamente que muitos critérios não são atingidos em curto espaço de tempo, e na minha concepção nem deve ser. Ora, se um curso de doutorado demora até quatro anos para ser finalizado, por que as metas necessárias para progressão para professor associado deveria ser em tempo menor? Essa progressão é vertical e vitalícia e deve ser uma meta que o docente se propõe a atingir mediante mérito, empenho, dedicação e aprendizado; assim como acontece para progressão nos outros níveis.
A UPE por sua característica estadual e multicampi envolve alguns desafios adicionais. Sabemos que até o presente momento não existem cursos de stricto sensu no interior. Obviamente que isso não limita os docentes dos campi do interior a se vincular aos cursos existentes até o momento. Temos alguns casos, inclusive de professores de Petrolina que atuam nos programas da capital. Porém, os programas existentes até o momento na UPE não contemplam todas as áreas do interior e, nesses casos, a criação de novos cursos se fazem necessárias. E nesse ponto eu concordo que isso contempla um passo adicional em todo o processo para as unidades sem programas stricto sensu. Minha sugestão é que seja adicionado um item (e não alterado os existentes). A proposição é que docentes envolvidos na implantação de cursos novos que sejam aprovados pela CAPES recebam um ponto por isso. Assim, ao invés de termos 5 critérios dos quais o docente deve atingir 3, passaríamos a ter o 6º critério “participar como docente permanente de uma proposta de curso de stricto sensu da UPE aprovada pela CAPES”. Dessa forma, um docente produtivo envolvido numa proposta de curso novo aprovada poderia solicitar de imediato a progressão. Alguns podem argumentar que essa norma valoriza apenas a pesquisa e isso é a mais pura verdade. Porém, para ser um docente assistente ou adjunto é também necessário cumprir uma grande atividade de pesquisa (dissertação ou tese). Além disso, as demais atividades (ensino, extensão e gestão) são consideradas no barema de avaliação, bem como na análise do memorial descritivo.
Assim como as outras etapas da carreira, os critérios estabelecidos pela UPE para progressão para professor associado estão claros, são tangíveis e valorizam o mérito acadêmico. Do ano passado para cá, os critérios foram alterados o que pode ter prejudicado alguns docentes que se basearam nos critérios estabelecidos no ano passado para tentar progredir esse ano. Além de dar mais credibilidade ao processo, isso permitirá que os docentes se planejem em longo prazo para alcançá-los. É necessário primeiramente “sentir” o real impacto do que está posto para depois melhorá-lo, o que claramente não acontece em apenas um ano.
A criação do cargo de professor associado é a luz no fim do túnel para os programas de pós-graduação stricto sensu da UPE e não pode perder essa função. Sem isso, todo o esforço que foi feito para criação desse cargo e para a sua implantação (visto que ainda não foi implantado de fato) contribuirá pouco para o crescimento da Universidade.
* Professor adjunto da Escola Superior de Educação Física da UPE