Procape desafoga cardiologia – Publicada em 27.06.06
Um hospital de 20 mil metros quadrados, com todos os seus ambientes climatizados, enfermarias com apenas dois leitos, emergência com suporte de UTI e tecnologia ainda nem disponível na rede privada passa a reforçar o sobrecarregado Sistema Único de Saúde (SUS) na próxima segunda-feira. O Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape), em construção desde 1999 no bairro de Santo Amaro, Centro do Recife, será inaugurado depois de amanhã, às 15h, e aberto ao público três dias depois.
Idealizado há quase três décadas pelo professor de cardiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Ênio Cantarelli, o Procape tornou-se nos últimos seis anos uma exigência da sociedade organizada. Sua abertura, defendida por entidades de profissionais da área de saúde, Conselho Estadual de Saúde, representações de pacientes e universitários, é apontada por esses setores como medida necessária para diminuir o estrangulamento da cardiologia pública. As duas únicas emergências cardiológicas do Estado – a do Oswaldo Cruz e a do Agamenon Magalhães – vivem superlotadas, com pacientes internados em cadeiras.
Segundo Cantarelli, ainda não será possível colocar em funcionamento todas as áreas do hospital ao mesmo tempo. “Na quarta-feira (amanhã), vamos decidir com a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia o que será aberto ao público inicialmente”, adianta. O Procape pode começar a funcionar pelo ambulatório, realizando consultas, ou pela emergência, necessidade urgente do SUS. O setor de hemodinâmica, onde são feitos exames de cateterismo e tratamentos como angioplastia, já funciona desde o ano passado, porque o vizinho Oswaldo Cruz, até então principal referência em cardiologia, tinha aparelhos quebrados.
O pronto-socorro não pode abrir de imediato totalmente porque ainda estão em andamento licitações de materiais, medicamentos e de pessoal terceirizado. Também falta concluir o treinamento dos profissionais concursados, além de ajustes na infra-estrutura. “Outros grandes hospitais demoraram 30 ou 50 anos para funcionar. Estamos conseguindo em apenas sete anos”, compara satisfeito Ênio Cantarelli.
A presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é esperada na inauguração, mas ainda não foi confirmada. O Ministério da Saúde é o maior financiador da obra e aparelhamento da unidade, que exigiu investimento de R$ 37 milhões. Mas grande parte dos recursos foi liberada por meio de emendas parlamentares. A manutenção do hospital, conforme Cantarelli, deve ser de R$ 6 milhões por mês, a ser assumida apenas pelo Estado, inicialmente.
O Procape vai oferecer mais que espaço aos pacientes. Dos seus 207 leitos, 38 são de terapia intensiva, além dos 19 da emergência com suporte de UTI. “Poderemos fazer até 1.500 cirurgias por ano”, diz o chefe da Cirurgia Cardíaca do Huoc, Ricardo Lima, que vai migrar para o novo hospital. No Oswaldo Cruz são feitas 360 operações por ano.
Em conforto, além de ar-condicionado com central própria de termo-acumulação, o hospital dispõe de enfermarias com apenas dois leitos, banheiro com água quente, BIP para avisar a troca de soro e cigarra para chamar a enfermagem. A tecnologia também supera a existente em outras unidades públicas e até em particulares. Será o primeiro público do Estado a ter tomógrafo Multislice, que mostra com detalhes as artérias coronárias, e pioneiro, em Pernambuco, no uso de fluxômetro, aparelho que mede fluxo sanguíneo na artéria coronária. De casa, os médicos poderão acompanhar, pela internet, informações do monitor cardíaco do paciente que ficou sob cuidados do colega plantonista. Na área de ensino e pesquisa, o hospital dispõe de auditórios e laboratórios.
Fonte: Jornal do Commercio publicada em 27.06.06