Polícia reprime manifestações – Publicado em 26.11.2004
O Centro do Recife viveu ontem um dia de protestos e assistiu a cenas muito próximas da repressão militar dos anos 60 e 70. Na Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, o Batalhão de Choque da PM espancou e afugentou com spray de pimenta estudantes que protestavam contra o aumento de 15% nas passagens de ônibus. Servidores da saúde em greve, que fazem um movimento pacífico desde a semana passada, foram intimidados por policiais do mesmo batalhão na porta de hospitais e da Secretaria Estadual de Saúde, que amanheceu cercada por cordas e militares armados. No Barão de Lucena, uma funcionária foi empurrada por um policial e a passeata dos servidores foi escoltada pelo BPChoque. O Ministério Público Estadual quer explicações da Secretaria de Defesa Social e o comando da PM recomenda aos agredidos denunciar à Corregedoria-Geral da SDS.
Estudantes agredidos por PMs
Policiais do Batalhão de Choque lançaram spray de pimenta nos 200 jovens que realizavam passeata contra o aumento das passagens de ônibus
Estudantes e policiais militares entraram em confronto, ontem, em mais um protesto realizado contra o reajuste de 15% das passagens de ônibus da Região Metropolitana do Recife, em vigor desde quarta-feira. A manifestação, que reuniu aproximadamente 200 jovens, começou pacífica. Ao chegarem à Central da Bilhetagem Eletrônica, na Praça Maciel Pinheiro, bairro da Boa Vista, no entanto, os manifestantes foram recebidos com spray de pimenta e agressões físicas pelos soldados do Batalhão de Choque (BPChoque). Algumas das agressões, inclusive, foram praticadas pelo comandante da unidade, tenente-coronel Luiz Meira.
Por causa do ardor e da queimação provocados pelo spray de pimenta, os estudantes começaram a correr, desesperados, em busca de ar. Duas jovens, que chegaram à central na linha de frente do movimento, passaram mal e tiveram que ser socorridas.
A situação mais grave foi a da estudante da 8ª Série da Escola Estadual Barbosa Lima Ana Karla da Cruz, 20 anos, que sofre de asma e não conseguiu se recuperar no local, sendo levada para o Hospital da Restauração (HR).
Entre os estudantes agredidos fisicamente estava o presidente da Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas (Ares), Edivan Santana Pessoa. “O comandante (Luiz Meira) partiu para cima de mim, sem que eu tivesse feito nada. Tínhamos acabado de chegar. Me segurou pelo pescoço e me deu dois socos na barriga, enquanto jogava spray de pimenta em mim e em outras pessoas. Ainda disse que ia me pegar depois, me prender e me bater na prisão”, denunciou.
O radialista Antônio Lira, da Rádio Relógio, também foi vítima do BPChoque, quando fazia a cobertura do protesto. Ele foi atingido pelo spray de pimenta e caiu no chão. Na queda, feriu os dois braços. “Tenho 65 anos, 41 de profissão e nunca vi uma cena dessas, nem mesmo na época da repressão do regime militar”, reagiu, indignado. Lira foi agredido quando transmitia ao vivo a manifestação. “Quando encerrava a entrevista com um deles, o coronel Meira se aproximou do rapaz, passou o braço no pescoço dele e lhe deu dois socos na barriga. Depois, vieram outros dois policiais com bombas de pimenta, lançadas contra mim e os estudantes.”
Durante a confusão, uma garrafa foi arremessada contra o bloqueio formado pelos 25 policiais do BPChoque, configurando o único momento em que os estudantes partiram para agressão. A Polícia Militar informou que o BPChoque reagiu aos estudantes, porque alguns deles tentaram invadir a central.
A corporação orientou as pessoas que se sentiram prejudicadas a prestar queixa na Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social. O protesto fechou a Avenida Conde da Boa Vista, nas proximidades da Rua do Hospício, provocando congestionamento em diversas vias próximas.
Fonte: Jornal do Commércio – 26.11.2004