Pernambuco pode se dar bem

Por: Mauro Ferreira Lima
Economista e professor aposentado da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP/UPE).

Superada a fase mais crítica da atual pandemia e iniciada a fase de vacinação em massa, certamente no final do primeiro trimestre de 2021, será a hora de se partir para a luta da reconstrução do que foi destroçado pelo atual horror sanitário.

De todas as economias afetadas, apenas a China terá um futuro menos imprevisível para a retomada do crescimento. A grande maioria dos países vai padecer muito para reerguer-se. Nesse contexto, o Brasil despontará com um quadro tenebroso de desarrumação econômica e social para administrar. De repente, “descobriu” que metade dos seus 211,5 milhões de habitantes vive numa penúria atroz para sobreviver no seu infelicitado cotidiano.

Durante os últimos 14 anos, “vendeu-se” ao mundo a imagem de um país que havia superado o subdesenvolvimento, a pobreza crônica e a miséria persistente. A pandemia escancarou a triste realidade de milhões de famílias cujo cotidiano é absolutamente inseguro até para garantir o pão com pão do dia a dia.

O país terá que “assumir” esse horror social e partir para rearrumar-se economicamente, após anos seguidos de crescimento pífio nesta atribulada década que se finda. Mais uma perdida!

No meio desse pandemônio, alguns segmentos econômicos terão mais chances de se ajustar à nova e desafiante realidade. Dentre estes, o segmento turístico, responsável por uma cadeia expressiva de geração de emprego e renda no país. Segundo dados do quase invisível e pouco operante Ministério do Turismo, representou em 2018, 8,1% do PIB nacional, gerando 7 milhões de empregos e oportunidades de trabalhos.

Apesar de não ter uma política nacional convincente para desenvolver o turismo interno, a pandemia vai forçar seu surgimento por uma questão de emergência para combater a desocupação das pessoas. Como consequência acidental não deliberada disto, o Nordeste deverá ser uma das regiões que mais se beneficiará dessa nova realidade. Explico: com o dólar mantido no entorno dos 5 reais, ficará caro para as classes média-média e média-alta mandarem-se para o exterior. O aperto econômico e o desemprego continuarão dificultando esta opção. Até mesmo a Argentina e Chile sentirão o baque da massiva presença de brasileiros por lá.

A tendência será o turismo interno “despontar”. Poderá se nesse quadro que o Nordeste se situará bem melhor como polo atrativo para lazer e negócios no país. É aí que Pernambuco poderá se dar muito bem se os gestores públicos abrirem seus cerrados olhos para “vender”, com profissionalismo, o que o Estado acumula no seu privilegiado conjunto de ativos exploráveis turisticamente.

Para que isto se concretize, o Estado terá que pôr em prática uma “agressiva” política de atratividade setorial. Terá que entender que dispõe de um ativo excepcional para viabilização disto: o contexto “Recife-Olinda”. Tal preciosidade, é inexplorada pela visão, nada profissional, do seu imenso potencial. É um privilégio para a histórica cidade do Recife ser uma capital geminada a uma outra como Olinda, “patrimônio cultural e histórico da humanidade”, desde 1982. Onde existe isto, no mundo? E isso não se explora nem se “vende” nas publicidades canhestras para divulgar o Estado. Tampouco, falta eficiência na divulgação profissional do Instituto e da Oficina dos Brennands, Ricardo (in memoriam) e Francisco. E também: a Sinagoga Kahal Zur Israel, o Paço do Frevo, a Central do Artesanato e o Cais do Sertão! Há muito para ser “vendido” competentemente em Pernambuco, minha gente!

Além dessas constatações de potencialidades inexploradas no conjunto Recife-Olinda, recente pesquisa de junho do Booking, coloca Porto de Galinhas como um dos cincos “points” nacionais de maior interesse para a atração de fluxos turísticos. Com seus 13,5 leitos, Porto de Galinhas tende a assegurar empregos e retomar seu glamour como local dos sonhos para recém-casados de múltiplos recantos do País.

Recentes pesquisas de fontes confiáveis, como a da Omnibees, atestam que, em junho, já se constata uma subida promissora na reserva de hotéis na localidade. Atualmente está em 35%.A tendência é de elevação, com comedimento, mas acontecendo. Nessas pesquisas, o Recife aparece em segundo lugar como opção preferencial de viagem, logo atrás de Fortaleza.

A cidade tem tudo para avançar e se situar no patamar superior!

Vender “Recife-Olinda”, com Porto de Galinhas, a 65 km da capital, torna-se um produto com enorme atratividade se for bem feita a campanha promocional deste “produto”. As outras importantes localidades turísticas do Estado poderão vir por agregação paulatina, mas também, de forma ágil. Exige-se!

Em resumo, Pernambuco tem tudo para ser um caso de sucesso nessa tentativa de retomada do crescimento nacional. O Brasil tende a cair 6,0 % no seu PIB e tende a subir para 3,0 % positivos em 2021. Há que começar a trabalhar diferente já a partir de agora, senhores gestores públicos, para pegar este bonde que logo-logo partirá da estação!

*Artigo publicado originalmente no Blog do Magno Martins

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