Os novos desafios da UPE – Publicada em 12.09.2010

Eleição para reitor na próxima terça-feira traz à tona a falta de professores e funcionários. A universidade cresceu, mas não ampliou o quadro de pessoal

Ampliação do corpo docente, contratação de mais servidores administrativos, fortalecimento de uma política de assistência estudantil e melhoria da infraestrutura das unidades, sobretudo as do interior, são alguns dos desafios que precisam ser vencidos na Universidade de Pernambuco (UPE). Na próxima terça-feira, haverá eleição para reitor e vice-reitor. Apenas uma chapa está inscrita, Unidade e Integração, do atual reitor, engenheiro Carlos Calado, que pleiteia a reeleição. O candidato a vice é o médico Rivaldo Mendes, que já atuou na direção do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam). Eles comandarão a universidade de 2011 a 2014.

Uma das principais queixas dos diretores das unidades da UPE é o déficit de professores. “A universidade cresceu, fortaleceu a interiorização, mas não houve ampliação no número de docentes. Outro problema é o quadro administrativo. Estou na UPE há 16 anos e a quantidade de funcionários é a mesma. No câmpus de Caruaru, por exemplo, a necessidade é de cerca de 20 pessoas. Hoje temos lá apenas um servidor, cedido por outro órgão, além de estagiários”, afirma Pedro Falcão, que acumula a direção dos câmpus da UPE de Caruaru e Garanhuns, no Agreste, e Salgueiro, no Sertão. A universidade tem atualmente 897 professores e 4.283 servidores.

Para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a nova gestão precisa focar na assistência aos alunos. “A UPE não dispõe de restaurantes universitários nem casas do estudante. Muitos estudam nas unidades do interior e precisam se deslocar pagando ônibus. Há bolsas para alunos carentes, mas é um número insignificante. Não chega a cem”, observa a presidente do DCE, Thamires Lucena, 22 anos, aluna do 7º período do curso de educação física. O DCE defende a criação de uma pró-reitoria de assistência estudantil. Ano passado, havia na UPE 13.524 alunos em graduações presenciais, 6.265 no Programa Especial de Graduação em Pedagogia (Progrape) e 20.504 em cursos de ensino a distância.

Na avaliação dos diretores, é preciso também valorizar os professores. O Plano de Cargos e Carreira existe, mas não especifica como um docente pode ascender na instituição. “A gente contrata, treina, mas não consegue reter os talentos. Os professores que ingressam na UPE não se sentem motivados. Estamos perdendo-os facilmente para as universidades federais ou para iniciativa privada, onde os salários são melhores”, lamenta o diretor da Escola Politécnica de Pernambuco (Poli), Pedro Alcântara.

Para o diretor da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP), Belmiro Vasconcelos, a nova gestão tem que buscar mais recursos para a instituição. “Conseguimos a gratuidade, mas falta dinheiro para manutenção. O valor da mensalidade é o mesmo desde 1996. Mantemos a faculdade com muita dificuldade”, observa.

VOTAÇÃO

Como não há chapa concorrente, Carlos Calado e Rivaldo Mendes serão eleitos independentemente da quantidade de votos. Segundo o presidente da comissão eleitoral, José Roberto Cavalcanti, aproximadamente 28 mil pessoas estão aptas a votar, sendo 900 docentes, 4.100 servidores e 23 mil alunos. Entre os estudantes, podem votar os vinculados às graduações, ao Progrape e aos cursos de ensino a distância. Também os alunos das Escolas de Aplicação que tenham mais de 16 anos. Haverá urnas em todas as unidades da UPE no Grande Recife e no interior (Petrolina, Caruaru, Salgueiro, Garanhuns e Nazaré da Mata). A votação será das 6h às 22h. A apuração começa assim que terminar a votação. “Nossa expectativa é encerrar a apuração na madrugada da quarta-feira”, informa José Roberto.

ENTREVISTA » CARLOS CALADO
“É preciso investir em infraestrutura”

Publicado em 12.09.2010 – Jornal do Commercio

Responsável pela condução da UPE nos últimos quatro anos, o reitor Carlos Calado vai encarar o desafio de manter-se no cargo por mais quatro anos, até 2014. Entre os seus projetos, afirma, estão o de melhorar a qualidade dos cursos de graduação e consolidar a interiorização da universidade.

NOVA GESTÃO

O Ministério da Educação vai reavaliar, em 2016, o que é universidade, centro universitário ou faculdade. Vamos trabalhar para garantir que continuemos como universidade. Para isso, devemos ter dois doutorados. Hoje temos apenas um. É preciso ainda oferecer quatro mestrados. Já temos 13. A instituição deve ser avaliada com conceito 4 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Atualmente, a UPE é conceito 3. No Enade, a média dos cursos deve ser 4. A nossa é 3. Alcançar esses requisitos será um dos nossos desafios.

AUTONOMIA

Temos que discutir com o governo o projeto de autonomia da universidade. Não é simplesmente achar que um projeto de lei dando autonomia vai resolver. A UPE quer pactuar com o Estado para que sejam dadas condições de cumprirmos nossa missão, que é contribuir para o desenvolvimento sustentável de Pernambuco com ensino, pesquisa e extensão. Temos bastante credibilidade e, apesar das dificuldades que vivenciamos, avançamos muito.

GESTÃO

Destaco a implantação do estatuto e do regimento geral da UPE como avanço forte, no sentido de respeitar a história da formação da universidade. Começamos a constituir uma verdadeira universidade, criamos condições para transformar a cultura das unidades isoladas na cultura de universidade. Ressalto também o fato de termos investido o que arrecadamos com os vestibulares, desde 2009, no programa de fortalecimento acadêmico.

INTERIORIZAÇÃO

É outro destaque na minha primeira gestão e desejo avançar mais nos próximos quatro anos. Em Caruaru temos dois cursos. Em Garanhuns vamos implantar mais um na área de saúde, o de medicina. Há nutrição em Petrolina, que já tinha fisioterapia e enfermagem. Estaremos em 2011 em Arcoverde com direito e odontologia. Salgueiro oferece administração. O plano é chegar, no próximo ano, em Palmares, com enfermagem e sistemas de informação e em Serra Talhada com medicina.

FINANCIAMENTO

A gratuidade não reduziu a receita, pelo contrário, eliminou a inadimplência e corrigiu o valor das mensalidades, congelado desde 2001. As dificuldades financeiras da UPE não foram resolvidas com a gratuidade. A solução virá com a o plano de desenvolvimento a ser pactuado com o Estado. Estou otimista, a UPE começa a ser vista como solução para o desenvolvimento sustentável de Pernambuco.

CONCURSO

Hoje a UPE tem carência grande de recursos humanos. Temos pedido ao governo para que realize concurso. É uma questão crucial, que nos preocupa. A universidade está se expandindo e precisa ampliar o quadro de servidores e professores. Implantamos o plano de cargos e carreiras, falta definir mecanismos de ascensão para levar ao governo. É preciso também investir na infraestrutura. Ainda há unidades no interior sem sala de professores e laboratórios.

ASSISTÊNCIA Conseguimos, com recursos próprios, implantar o programa de fortalecimento acadêmico. Investimos R$ 2 milhões. Sabemos que precisamos avançar, pois não adianta colocar o estudante na universidade e não dar condições de concluir o curso, e com qualidade.

Três hospitais serão integrados no novo mandato
Publicado em 12.09.2010 – Jornal do Commercio

Integrar os três hospitais da UPE é uma estratégia já definida para o novo mandato do engenheiro Carlos Calado na reitoria da universidade. Um conselho, composto pelas unidades, foi criado há dois meses e dirigentes do Oswaldo Cruz (Huoc), Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) e Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) já começaram a discutir, semanalmente, a interação que visa otimizar o trabalho e reduzir despesas. Com a crescente demanda por serviços de saúde, as três unidades, que são de referência no SUS e formadoras de profissionais, carecem também de mais pessoal e expansão física.

“O Procape fica ao lado do Oswaldo Cruz, poderemos usar a mesma lavanderia e compartilhar outros usos”, explica o diretor do pronto-socorro, Sérgio Montenegro. Segundo ele, a compra conjunta de medicamentos e outros insumos também pode ser positiva aos três estabelecimentos. Inaugurado há quatro anos, o mais novo hospital da UPE tem 120 leitos de enfermaria lotados e recebe mais de 100 doentes por dia na sua emergência. Além disso, conta com 34 dos 40 leitos de UTI ativados. “Falta pessoal para abrirmos os seis leitos de terapia intensiva voltados à pediatria”, explica o diretor.

O Procape tem carência de 100 profissionais e espaço. Faltam médicos e há anexos ainda não concluídos, problemas que impedem o uso de toda a sua capacidade. O almoxarifado, que ficará no edifício-garagem em construção, está improvisado numa área que seria destinada a uma enfermaria.

No Cisam, a diretora Fátima Maia, que cumpre seu segundo mandato, está otimista com os próximos quatro anos. “A integração entre os três hospitais é muito importante. Nas últimas reuniões temos discutido a saúde dos trabalhadores”, diz. Ela avalia que a primeira gestão de Carlos Calado foi positiva para o centro de saúde. Como o vice-reitor será um ex-dirigente da maternidade as expectativas são maiores.

O menor hospital da UPE, que tem 104 leitos, é referência em parto de alto risco. Assim como o Procape, tem déficit de pessoal por causa de aposentadorias e crescimento da demanda de pacientes. Faltam obstetras, neonatologistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros auxiliares. Uma unidade de terapia intensiva para mulheres está em construção.

No Hospital Oswaldo Cruz, o maior dos três, os desafios passam pela admissão de mais profissionais e conclusão de obras nos pavilhões antes usados pela cardiologia e que estão em reforma para atender outras especialidades. Além disso, a unidade está montando um serviço de referência em radioterapia, para tratamento de câncer.

O candidato a vice-reitor, o professor, pesquisador e médico Rivaldo Mendes, reconhece o déficit de pessoal, mas explica que a questão deve ser tratada em acordo com a reorganização dos serviços.

“Além da integração entre os hospitais, precisamos melhorar a qualidade da gestão das unidades”, avalia. Avançar nas pesquisas também será outra prioridade. “A UPE precisa ser vista como propulsora de desenvolvimento econômico e científico”, completa. Dois doutorados na área de saúde deverão ser lançados.

Conforme Rivaldo Mendes, a integração, que começou a ser construída entre os três hospitais, também é uma política extensiva aos cursos da área de saúde. As faculdades já têm projetos conjuntos com os hospitais e a proposta é incentivar a aproximação com os campos da assistência, do ensino e da pesquisa. 

Publicado no Jornal do Commercio em 12.09.2010

Tonny
Author: Tonny

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