O Samba de Coco Parelha Trocada como identidade da comunidade quilombola Estrela – Por Denize Aquino
O SAMBA DE COCO PARELHA TROCADA COMO IDENTIDADE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA ESTRELA EM GARANHUNS-PE/Brasil
* DENIZE TOMAZ DE AQUINO
Vivenciando o universo místico da Comunidade Quilombola Estrela, durante as ações de ensino, pesquisa e extensão, em 2010 no PFA- Programa de Fortalecimento Acadêmico, orientando trabalhos de pesquisa de conclusão de curso na temática Quilombola, ministrando a disciplina Movimentos Sociais, foram fundamentais para o direcionamento da escolha do tema que tem como objetivo discutir através da dança o resgate da identidade cultural da comunidade quilombola Estrela, localizada no município de Garanhuns – PE Nordeste do Brasil e que representa a maior concentração de quilombolas com 06 comunidades de origem dos Palmares; o que deixa o Estado de Pernambuco entre os Estados brasileiros de maior número de quilombolas reconhecidos .
Estas comunidades quilombolas, muitas vezes apresentam traços comuns, dado ao fato de que, segundo seus representantes, historicamente são descendentes dos Palmares, cuja ocupação do espaço ter sido em tempo histórico semelhante, mas com características que as diferencia, são elas: Timbó, Caluete, Tigre, Castainho, Estivas e Estrela.
Dança de Coco Parelha Trocada
Distanciado no tempo, o quilombola Estrela é explorado pelos seus símbolos e negado como movimento social negro. Suas ações são pela sustentabilidade do ser negro e não apenas da sustentabilidade de um anti racismo duvidoso, questionado pelo próprio espaço geográfico onde estão localizados.
Segundo narrativas do líder da comunidade Estrela, a origem da dança de coco parelha trocada surgiu a mais de duzentos anos nos cafezais para comemorar a colheita, e integrar a comunidade em tempo de festa e deve ser preservada em sua forma e modos de dançar.
A visão preconceituosa do ser negro fazia com que eles se juntassem a noite nos terreiros das casas de taipa, ao som de uma batida onde formavam passos aos quais davam nomes como: coco de parelha trocada, Baile do supapo, samba de coco entre outras denominações, aderindo ao nome conforme a região onde eram tocadas e cantadas pelos negros fugidos tirando versos sobre suas histórias de vida, ao som do batuque oriundo da batida de duas tampas de panela ou com duas colheres. Quando instrumentadas, recebiam o nome de coco de zabumba, coco de ganzá, pagode, zambê ,bambolês entre outras.
O improvisado de letras, para dançar o coco fazia parte do ritual de dança algumas delas escritas e conhecidas até hoje, como “o café de josué”, cantada nas apresentações do samba de coco parelha trocada.
Hoje, para o quilombola Estrela a dança e a letra dessa dança constitui uma parte vital na qual os sentimentos e suas histórias de vida são expressos por meio de versos e acompanhados por instrumentos tais como o pandeiro, timba e o tambor.
A grande preocupação dos líderes do Estrela é que essa manifestação cultural dos seus antepassados, suas histórias de vida possa ser esquecida pelo processo de dominação cultural, advinda da globalização, principalmente por essas comunidades estarem fragilizadas do ponto de vista do incentivo a cultura e a falta de políticas públicas. E que segundo eles “ essa manifestação cultural pode sim estar adormecida, mas não esquecida”.
A compreensão desses sujeitos históricos, na luta pela sustentabilidade de ser negro, e a luta pelo território e preservação da cultura através das crenças centenárias e da dança de coco parelha trocada, precisam ser preservados e não pode ser camuflado.
A questão a ser discutida pelo quilombola Estrela não é apenas o território e sim sua simbologia, intrínsecos da identidade, de um espaço onde ocorrem as afetividades humanas onde estes estabelecem vínculos afetivos de crenças e de parentesco as significações culturais e compadrios e constroem suas histórias de geração a geração através da dança de coco parelha trocada e os valores culturais a ela atribuídos ao mesmo tempo em que se estabelecem enquanto sociedade em suas várias formas de valores sociais e ideológicos na luta pela resistência.
Denize Aquino é professora do Campus UPE Garanhuns.