Mudança para a Cidade da Copa – Comunidade à margem do debate

Estudo sobre a transferência da UPE para a "Cidade da Copa" autorizado pelo governo ainda não teve grande debate com a Universidade

Giovanni Sandes

Publicado no Jornal do Commercio, edição de 18 de maio de 2012

Os estudos em andamento sobre uma parceria público-privada (PPP) para a construção e operação do Campus Integrado da Universidade de Pernambuco (UPE), apesar de revelados hoje, pelo JC, foram autorizados pelo Estado há dois meses. O comando da UPE, contudo, apesar de seu interesse direto no assunto, ainda não está totalmente integrado ao debate.

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O Comitê Gestor do Programa Estadual de PPPs (CGPE) é a instância onde empresas podem apresentar uma proposta de manifestação de interesse (PMI), no geral um embrião de projeto de uma parceria público-privada. Apesar de vários secretários terem assento no CGPE, a Universidade de Pernambuco informou que teve poucos e informais contatos com a Odebrecht sobre os estudos do novo campus e que há reunião sobre o assunto marcada com a construtora para o próximo dia 29.

O CGPE é vinculado à Secretaria de Governo, interinamente sob o comando de Josué Honório. Procurado para comentar os estudos sobre o novo campus, ele apresenta as informações iniciais.

“A arena é apenas a célula inicial da Cidade da Copa, que terá toda a sorte de serviços, privados e públicos. Uma possível ida do campus da UPE para lá serviria como nova âncora da Zona Oeste da região metropolitana. A Universidade teria não apenas novos prédios, mas também mais musculatura para oferecer instalações melhores e com mais espaço para crescer”, comenta Josué.

Na avaliação dele, os alunos poderão utilizar o novo sistema de transporte coletivo, mais conhecido pela sigla em inglês BrT, construído para a Copa 2014, além de estação de metrô próxima.

“Também poderemos integrar, de forma racionalizada, os sete cursos iniciais e até novos cursos, atraindo empresas para o entorno e facilitando o convívio de alunos com um ambiente multidisciplinar, como acontece na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)”, comenta Honório.

Mas ele ressalta que tudo está condicionado à aprovação dos estudos. Além disso, há outra questão a resolver: o que fazer com os prédios eventualmente desativados? “A PPP vai demonstrar a viabilidade ou não do novo campus. Sendo viável, o governo vai decidir o que fazer com os prédios desocupados”, complementa Josué.

UPE pode transferir principais cursos para a Cidade da Copa

Estado autorizou Odebrecht a estudar campus integrado da universidade em São Lourenço

Giovanni Sandes

Os sete principais cursos da Universidade de Pernambuco (UPE) no Recife podem ser transferidos para a Cidade da Copa, em São Lourenço da Mata, caso vire realidade uma nova parceria público-privada (PPP) em estudo. Batizado de Campus Integrado da UPE, o projeto tem investimento estimado em R$ 300 milhões. Proposto pela Odebrecht, ele reuniria, segundo a Secretaria de Governo, a reitoria e os cursos de administração, ciências biológicas, medicina, enfermagem, odontologia, educação física e engenharia. O resultado dos estudos sai em setembro e, se o governo aprovar o projeto, a ideia é ter o primeiro edifício funcionando no novo campus em 2014.

Os números financeiros ainda são iniciais. Mas o projeto básico de construção já está pronto: serão 90 mil metros quadrados na primeira etapa, além de uma área de expansão que totaliza 150 mil m² para a nova UPE. Só a primeira fase teria capacidade para 15 mil alunos.

O projeto foi desenvolvido pela Aecom, a pedido da Odebrecht, para se integrar ao conceito da Cidade da Copa, um complexo orçado em R$ 2 bilhões muito maior que a arena do Mundial 2014 e que envolverá áreas residenciais, comerciais e hotelaria.

“Temos o masterplan do Campus Universitário já pronto, feito pela Aecom, hoje a maior do mundo na área”, comenta Marcos Lessa, presidente da Arena Pernambuco Negócios, consórcio de empresas da Odebrecht à frente da Cidade da Copa. Ele cita trabalhos internacionais da Aecom em Dubai e na Inglaterra, em instituições de ensino superior como Cambridge.

O projeto, segundo Marcos, é para obras e instalações de um novo campus, não para fornecer educação. “A proposta é unicamente para construção e manutenção predial. Seria uma concessão administrativa. A parte intelectual, acadêmica, caberia à UPE”, afirma Lessa.

A concessão administrativa mencionada por ele é uma das duas modalidades de uma PPP, tipo de concessão que precisa de dinheiro público para se sustentar. Quando uma dessas parcerias gera parte da própria receita, é uma concessão patrocinada. Se o dinheiro vem apenas do governo, a concessão é administrativa.

As PPPs são um meio para os governos viabilizarem projetos caros de infraestrutura, como estradas. Pernambuco tem três dessas parcerias: o acesso com pedágio à Reserva do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, o Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (complexo prisional na Mata Norte) e a própria Cidade da Copa, em São Lourenço.

Além das PPPs que já têm contrato assinado, há várias outras em estudos. A mais adiantada é para ampliar de 28% para 90% a coleta e tratamento de esgoto no Grande Recife e Goiana, negócio com faturamento estimado em R$ 16,7 bilhões, em 35 anos, e que deve ser licitado mês que vem. A mais nova é a da UPE.

“Como é um estudo, os resultados vão mostrar se ela é viável ou não”, diz o secretário interino de Governo, Josué Honório. O estudo de uma PPP tem que ser autorizado pelo governo até porque, se o negócio for considerado viável e licitado, o gasto nessa etapa é ressarcido à empresa que fez a pesquisa. No caso da UPE, o estudo de viabilidade econômico-financeira custará R$ 8,5 milhões.

Com UPE, governo é primeiro possível investidor da Cidade da Copa

Em meio a outras negociações, complexo tem no novo campus primeira proposta conhecida publicamente

Giovanni Sandes

A Cidade da Copa é um complexo bilionário de lazer e entretenimento, viabilizado por uma parceria público-privada (PPP). Ele prevê diversos projetos menores nos 242 hectares do terreno, como hotéis, shopping center, residências e escritórios, entre outros. Até agora, porém, nenhum nome de investidor havia sido revelado. O governo estadual, já presente na PPP, é o primeiro nome de investidor da Cidade da Copa com proposta discutida publicamente.

Mais do que apenas um estádio de futebol, o conceito do complexo é ter moradia, trabalho, educação, lazer e entretenimento, tudo em um lugar apenas. A ideia é desenvolver tudo em quatro fases. Apesar de não haver qualquer exigência para a Arena Pernambuco Negócios iniciar as obras até o Mundial, o consórcio, formado por duas empresas da Odebrecht, divulgava que teria obras iniciadas no primeiro semestre deste ano para entregar em 2014 ao menos parte da primeira fase, com um campus educacional, centro de convenções, hotel e um ginásio, além de uma área de comércio e alimentação.

Segundo Marcos Lessa, presidente da Arena Pernambuco Negócios, os projetos ainda estão sendo negociados, em diferentes etapas de consolidação. Ele diz que o shopping deve ficar pronto até o início de 2014, assim como um primeiro edifício do novo campus da UPE, se a PPP virar realidade.

Tonny
Author: Tonny

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