“Mercantilização” do ensino domina debate sobre reforma universitária – Publicado em 25/02/05

Numa discussão acalorada e com algumas duras acusações entre os debatedores, o ministro Tarso Genro (Educação) e seus dois antecessores no cargo, Cristovam Buarque (PT) e Paulo Renato Souza (PSDB), deixaram claras suas divergências sobre a proposta de reforma universitária do Ministério da Educação no debate realizado ontem pela Folha em seu auditório.

O debate foi antagonizado principalmente por Paulo Renato e pelo petista Tarso. O atual ministro chegou a afirmar que o tucano legitima suas críticas ao projeto de reforma “nos interesses do mercado”. Paulo Renato, por sua vez, disse que a proposta de reforma apresentada pelo MEC foi feita “pelas corporações das universidades federais, e em benefício das corporações”.

O motivo da divergência é que, enquanto Paulo Renato pediu menos burocracia para abertura de cursos e mais cobrança de qualidade também em instituições federais, Tarso defendeu mais controle no setor privado como forma de garantir a qualidade.

Cristovam, por sua vez, ressaltou que o projeto de reforma universitária não pode ser apresentado sem haver também uma proposta para a educação básica.

As intervenções mais fortes de Paulo Renato e de Tarso foram seguidas de manifestações de parte da platéia, formada por reitores, estudantes e leitores que puderam acompanhar o debate no auditório da Folha.

Num dos momentos mais quentes do evento, Tarso disse que a gestão de Paulo Renato no ministério (os oitos anos de governo FHC) esvaziou as federais e permitiu a ampliação sem qualidade do ensino privado.

“O [ex-]ministro Paulo Renato é coerente com a sua prática no ministério, quando houve um processo de esvaziamento das universidades federais. A sua fonte de legitimidade é o mercado, a minha é a Constituição. Quando ele escreve, parece que não representa ninguém, que nunca foi ministro”, afirmou Tarso, sendo aplaudido por parte da platéia.

Em sua resposta, Paulo Renato afirmou que em seu período houve uma melhoria da qualidade na educação, citando números do MEC que mostram que os cursos autorizados em sua gestão tinham bom desempenho no provão e que houve expansão de matrículas também na rede pública, e não apenas nas particulares.

“O ministro Tarso Genro usa uma tática de debates, que é do movimento estudantil, de imputar ao debatedor coisas que ele não disse”, afirmou Paulo Renato, sendo também aplaudido por parte do auditório. Em seguida, Tarso se desculpou: “Se usei alguma expressão que pudesse ser entendida como uma restrição à sua atividade profissional, quero retirá-la expressamente”.

Sem entrar no mérito dessa discussão, Cristovam fez críticas ao projeto do MEC por não contemplar tópicos como a expansão do ensino à distância e a mudança na estrutura, em sua opinião defasada, dos departamentos nas universidades. “O aluno sai hoje da universidade com um diploma que pode ficar obsoleto em cinco anos. Ele precisa ser constantemente “re-formado'”, disse o ex-ministro petista.

Durante o debate, um grupo de oito membros da Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes) realizou um protesto contra os três ministros na porta do edifício da Folha.

Fonte: Folha de São Paulo, 25/02/05

Tonny
Author: Tonny

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