Governo e Odebrecht apresentam projeto do novo campus da UPE
Os secretários Marcelino Granja (Ciência e Tecnologia) e Ricardo Leitão (Secretaria Especial da Copa de 2014) e representantes da Construtora Norberto Odebrecht apresentam, na reunião do Conselho Universitário da UPE desta terça-feira (29/05), o projeto do Campus Integrado da Universidade de Pernambuco.
De acordo com as informações divulgadas na imprensa, o projeto seria realizado no regime de Parceria Público Privada, o que dá margem a inúmeras indagações, até aqui não respondidas. O novo campus reuniria a Reitoria e os cursos de Administração, Ciências Biológicas, Medicina, Enfermagem, Odontologia, Educação Física e Engenharia.
Desde os indícios da mudança, ainda no ano passado, a Adupe cobra da UPE e do Governo uma postura pública sobre a transferência, o que de fato ainda não ocorreu. A questão central não é ser contra ou a favor, mas de exigir um debate aberto e democrático, dada a dimensão da medida.
Em uma entrevista concedida ao JC Online, o reitor da UPE, Carlos Calado, traz alguns esclarecimentos sobre o novo campus. No entanto, em alguns momentos, ao invés de esclarecer, a fala do dirigente só reforça as dúvidas já levantadas pela Adupe.
- Leia abaixo a entrevista completa.
- Clique aqui e Conheça a opinião da Adupe sobre a transferência para o novo campus
Reitor da UPE fala sobre projeto de levar Universidade para a Cidade da Copa
Carlos Calado dá a sua avaliação sobre proposta do Campus Metropolitano, em São Lourenço
Publicado em 26/05/2012, às 00h02 no NE10
Giovanni Sandes
A possível criação de um campus integrado da Universidade de Pernambuco (UPE) na Cidade da Copa, em São Lourenço da Mata, foi revelado na semana passada, pelo JC. O projeto interessa a milhares de alunos, futuros estudantes e também a professores e funcionários. Na ocasião, a resposta da UPE, pela assessoria de imprensa, foi alegar pouco conhecimento sobre o tema. Após a publicação da matéria, o reitor da Universidade, Carlos Calado, se dispôs a tratar do projeto, por e-mail.
Ele diz que a UPE está envolvida na discussão, promete dar voz a alunos e professores e responde a perguntas que interessam aos estudantes de hoje e do futuro: mobilidade, segurança e custo de vida para os alunos. Calado não soube responder, porém, questões ligadas a financiamento do projeto, uma parceria público-privada (PPP) com investimentos estimados em R$ 300 milhões. A análise de viabilidade está sendo feita pela Odebrecht, à frente da Cidade da Copa, por meio do consórcio Arena Pernambuco Negócios, que reúne duas empresas do grupo.
Leia a entrevista feita por e-mail.
JORNAL DO COMMERCIO – Reitor, afinal, a UPE está ou não participando da discussão sobre um possível novo campus na Cidade da Copa? Quem e quantas pessoas da Universidade tiveram acesso a esse projeto e às discussões, antes de a história vir a público?
CARLOS CALADO – A UPE está participando da discussão sobre um possível novo campus na Cidade da Copa, o Campus Metropolitano Recife. A universidade disponibilizou os diretores de cada unidade para, em conjunto, discutir a possível estrutura e necessidades para um campus integrado. Assim, essa equipe contribui com a elaboração do conceito de um campus ideal e que atenda as necessidades atuais e futuras da universidade. Realizamos algumas reuniões e houve muita troca de informação.
JC – Existe alguma PPP especificamente com instalações de uma universidade pública no mundo? E no Brasil? Quais são?
CARLOS CALADO – Não disponho dessa informação. Mas observo que o modelo de PPP vem se tornando uma tendência para viabilizar os investimentos em grandes infraestruturas diante dos exemplos bem sucedidos.
JC – Pelos números atuais, qual é o preço do metro quadrado que a UPE vai pagar para construir o campus na Cidade da Copa? E pela operação?
CARLOS CALADO – De acordo com o modelo sugerido, a UPE irá se responsabilizar pelos serviços educacionais no novo campus. A questão da construção e manutenção pode ficar a cargo do Estado através da PPP.
JC – No geral, qual o faturamento estimado do contrato inteiro (construção mais operação)? E durante que período?
CARLOS CALADO – A participação da UPE é acadêmica. Esperamos que os investimentos acarretem melhores condições para a universidade cumprir com mais qualidade sua missão institucional.
JC – É a primeira vez que se discute a criação de um campus integrado da Universidade?
CARLOS CALADO – Sim, pelo menos dentro do meu conhecimento.
JC – Qual é o objetivo do novo campus?
CARLOS CALADO – Integrar, fortalecer e dar suporte para que a UPE possa se reestruturar academicamente, implantar um novo modelo de gestão mais eficiente e eficaz para melhor desempenhar sua missão institucional, bem como atingir a excelência acadêmica.
JC – O que a Universidade ganharia com a mudança?
CARLOS CALADO – Abertura real para a construção de uma universidade moderna, motivadora e com potencial de crescimento. Essa possibilidade de ampliação nos permitirá acompanhar o momento de desenvolvimento do Estado, fortalecendo a formação de profissionais que poderão atender às atuais demandas, por exemplo, da ampliação de Suape, do Estaleiro Atlântico Sul, dos Polos Automotivo e Farmacoquímico, bem como da própria Cidade da Copa.
JC – Existe ociosidade de espaços?
CARLOS CALADO – Nossas instalações atuais estão, há muito, estranguladas. As novas instalações estão sendo projetadas para dar suporte às nossas necessidades do presente e da ampliação futura planejada.
JC – Qual o problema com os prédios atuais? Eles trazem algum desequilíbrio financeiro para a UPE?
CARLOS CALADO – Eles não nos atendem e limitam a qualidade dos nossos cursos conforme exigências do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior).
JC – Melhorar a gestão predial feita pela UPE não resolveria os problemas?
CARLOS CALADO – Não. Continuaríamos com as limitações das faculdades isoladas; duplicidade de atividades de gestão acadêmica e administrativa; sérias deficiências de espaço físico, por exemplo.
JC – Enquanto se desenvolve o estudo da PPP, a Universidade não poderia provocar um debate amplo com seu corpo docente e discente (de alunos), por exemplo, com o estudo e desenvolvimento de soluções alternativas por professores e alunos do curso de administração? Pelo menos para comparar o custo e a eficácia de propostas diferentes?
CARLOS CALADO – Sem dúvida, em cada uma das etapas pertinentes. Os dirigentes das faculdades integrantes do futuro Campus Metropolitano Recife já participam das discussões e estão contribuindo com os planejadores. No próximo dia 29 de junho, o secretário Ricardo Leitão e os empreendedores estarão participando da reunião dos Colegiados Superiores da UPE para exporem a proposta até agora desenhada. A partir daí, novos membros da Comunidade Acadêmica serão chamados a contribuir.
JC – Muitas "cidades planejadas" já foram anunciadas no mercado, só neste ano. Se a questão é um campus unificado, há algum estudo tomando pelo menos uma delas como opção?
CARLOS CALADO – Outra opção surgida foi ocupada por novo campus de Instituição Federal de Ensino Superior de Pernambuco. O Governo do Estado já é parceiro no projeto da Cidade da Copa, logo faria sentido inicialmente tentar a viabilidade junto a este projeto. Além disso, entendemos que o projeto da Cidade da Copa fortalece um novo vetor de crescimento da RMR, que é o Oeste Metropolitano.
JC – Quais cursos iriam para a Cidade da Copa? Em que prazo e em que ordem?
CARLOS CALADO – Os cursos de graduação de Educação Física, bacharelado e licenciatura, Enfermagem, Medicina, Ciências Biológicas, Odontologia, os sete cursos de Engenharia e Administração. Também, todos os cursos stricto sensu da UPE, doze mestrados e um doutorado. A meta é de transferência simultânea dos cursos e programas no prazo estimado de 2014.
JC – Os primeiros 90 mil metros quadrados seriam para esses cursos. Mas e a área restante, futuramente, serviria para quê?
CARLOS CALADO – Para a ampliação da UPE com oferta de novos cursos a partir do crescimento de Pernambuco.]
JC – Em um momento de crise de mobilidade urbana, como justificar a necessidade de locomoção para o novo endereço, em São Lourenço? Sem contar que estudante tem estágio e se desloca várias vezes no mesmo dia…
CARLOS CALADO – Quem mora em Recife não tem garantia de mobilidade. O que se planeja é, a partir dos investimentos da Copa 2014, assegurar transporte público de qualidade e confiabilidade. Outro aspecto é que uma universidade não funciona como instituição isolada com objetivo principal limitado à formação profissional. Em uma universidade de qualidade, pratica-se a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Lá formaremos melhor nossos estudantes, estágios são importantes para a formação, sem dúvida, mas são complementares, não substituem a formação acadêmica com base no projeto pedagógico de cada curso.
Além disso, a Cidade da Copa está a apenas 19 km de distância do Marco Zero do Recife e vários investimentos estão sendo realizados pelo Governo do Estado para conectar, através de mais opções, a zona Oeste e o centro do Recife, como a Radial da Copa e os corredores Norte-Sul e Leste-Oeste, além de uma nova estação integrada de metrô. Esses investimentos já estão sendo realizados com vistas à realização da Copa em Pernambuco, logo a mobilidade urbana será maximizada para o local.
JC – Falando em endereço, quem são, por residência, os estudantes da UPE? Eles moram em que municípios e bairros?
CARLOS CALADO – Há de se realizar levantamento no sistema de gestão acadêmica para responder com precisão a pergunta.
JC – O início do campus será também no início da Cidade da Copa. O que se discute para garantir a segurança das instalações e dos alunos na área, especialmente à noite?
CARLOS CALADO – Essas questões estão em andamento. Mas, desde já, estamos acompanhando que a segurança está sendo tratada como um dos principais pilares no planejamento da Cidade da Copa e a comunidade acadêmica será beneficiada por isso também. O projeto prevê o monitoramento de vias e espaços públicos por câmeras de segurança, além do uso da tecnologia para otimizar a comunicação entre os diversos órgãos. O Governo, por sinal, também instalará sua Central de Comando e Controle na Cidade da Copa.
JC – Qual a opinião dos estudantes e dos professores sobre o projeto, considerando esses quesitos de segurança e distância?
CARLOS CALADO – O debate será realizado na universidade. Porém, não adianta abrir debate sem ter concretamente a proposta para apresentar, uma vez que o processo de construção está sendo iniciado. No entanto, temos certeza de que a área irá contemplar as necessidades de instalações modernas e confortáveis para a comunidade acadêmica.
JC – A Universidade tem os recursos financeiros necessários para viabilizar o projeto, caso ele se mostre viável? De onde viria o dinheiro?
CARLOS CALADO – A viabilidade econômico-financeira está sendo discutida no âmbito do Governo do Estado de PE, o qual avaliará da melhor maneira a alocação dos recursos.
JC – O financiamento da PPP terá algum impacto no custo para os estudantes? Alguma tarifa adicional seria cobrada por serviços oferecidos dentro do Campus, como biblioteca, laboratórios, salas para eventos etc?
CARLOS CALADO – A UPE, desde 2010, tornou-se gratuita por decreto do Governador Eduardo Campos, sonho antigo de toda comunidade acadêmica. Assim, não cabe mais falar em custo para os estudantes.
JC – A quem caberia decidir pela eventual locação de espaços para empresas como restaurantes, lanchonetes e cafés, à concessionária ou à UPE? E como seriam definidos os critérios para essas escolhas?
CARLOS CALADO – Com essa mudança e pelo modelo de PPP, a UPE poderá focar na sua missão primordial, que é o desenvolvimento acadêmico. Outros serviços, como limpeza e restaurantes, poderão ser de responsabilidade da concessionária.
JC – Não seria possível debater a criação de receita própria no projeto para redução do custo público, justamente com a criação de setores gastronômicos?
CARLOS CALADO – A exemplo da exploração de serviços destinados à comunidade acadêmica, o assunto está sendo avaliado no âmbito da modelagem econômico financeira da PPP.
JC – Falando nisso, a Cidade da Copa promete serviços diferenciados e, potencialmente, mais caros do que a média. Como equilibrar o custo de vida dos alunos do novo campus? Eles não terão opções de serviços diversos dentro do novo campus?
CARLOS CALADO – No campus, os serviços serão direcionados aos alunos e à comunidade acadêmica. Além disso, pelo projeto haverá uma oferta de serviços bem diversificada.
JC – E quanto ao patrimônio atual da UPE, os prédios atuais, eles não poderiam ser mantidos em atividade? Ou ainda servir como fonte de recursos para a UPE?
CARLOS CALADO – O assunto está sendo avaliado no âmbito da modelagem econômico financeira da PPP.
JC – Se discute a possibilidade de repassar os prédios atuais dos cursos para a concessionária, como permuta, ou a venda deles ao mercado?
CARLOS CALADO – O assunto está sendo avaliado no âmbito da modelagem econômico financeira da PPP.
JC – Quando a decisão sobre a PPP será tomada? E quem baterá o martelo: a Secretaria de Governo, a UPE ou o governador Eduardo Campos?
CARLOS CALADO – O estudo de viabilidade econômico-financeira será avaliado pelo Comitê Gestor das Parcerias Público Privadas de PE (CGPE) e caberá ao governo do Estado a decisão, caso a viabilidade se dê satisfatoriamente, em levar o projeto adiante.