Fotos no Correio Brasiliense reacendem debate sobre Caso Herzog

O diário da capital federal, que vem explorando o filão dos Anos de Chumbo da ditadura, publicou em sua capa duas fotografias, entregues pelo ex-cabo do Exército José Alves Firmino à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Na única imagem conhecida até domingo, Herzog aparecia já morto, aparentemente por enforcamento, o que alimentava a versão de suicídio apresentada na época pelos órgãos de repressão. Nas fotos agora reveladas, Vlado, como era conhecido pelos familiares e amigos, aparece sentado sobre o estrado de uma cama, nu, com as mãos no rosto.

“É ele mesmo. É Vlado. Eu não tinha visto uma foto dele vivo na prisão”, comentou em entrevista para a reportagem a viúva do jornalista, Clarice Herzog. “É horrível vê-lo assim, ainda mais em uma situação sofrendo tanto constrangimento” (clique aqui para ver a íntegra da reportagem do Correio Brasiliense – arquivo em Adobe PDF).

Diante da repercussão das fotos, o jornal publicou na edição de ontem mais uma imagem inédita. Nela Herzog aparece ao lado de uma prisioneira; os dois estão nus e a mulher ainda não foi identificada. O Correio Brasiliense traz mais também matérias sobre a atuação dos agentes infiltrados do Exército em pleno período democrático, espionando congressos do PT e PCB, além de personalidades de Brasília, até o primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.

O Globo de segunda-feira traz reportagem sobre o trabalho do agente infiltrado que acabou revelando fotos do jornalista Wladimir Herzog ainda vivo, nu e humilhado nas dependências do Doi-Codi em São Paulo. Segundo o jornal, o crime, um dos mais discutidos da ditadura militar, ganhou novas provas com a revelação das fotos. O Estado de S. Paulo trouxe apenas uma nota sobre o assunto, dizendo que as novas fotos poderão ajudar na elucidação da morte do jornalista.

A matéria confirma e reforça uma particularidade da memória coletiva que o Brasil construiu sobre os anos de ditadura: ao contrário de outros países que viveram regimes militares repressivos de ultradireita, como a Argentina, Uruguai e sobretudo Chile, aqui ninguém põe em dúvida quem foram os heróis e quem foram os vilões do período. Isto vale mesmo para os órgãos da grande imprensa que em sua quase totalidade apoiaram o golpe de 1964. O ponto de vista que defende ou justifica a ditadura existe, mas isolado em termos de opinião pública.

O assassinato de Herzog, em 25 de outubro de 1975, foi um dos últimnos entre as centenas praticadas pela ditadura. Diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, membro do PCB mas sem uma militância intensa, ele compareceu voluntariamente ao DOI-Codia e ao cair da noite estava morto.

O episódio notabilizou-se porque o movimento antiditatorial, já em ascenso, pôde reagir com maior energia e amplitude que em casos anteriores: o Sindicato dos Jornalistas declarou-se em assembléia permanente; os estudantes da USP fixeram uma greve de três dias; 42 bispos assinaram uma declaração de protesto; um ato ecumênico promovido pelo arcebispo dom Evaristo Arns na Catedral da Sé reuniu 8 mil pessoas, no primeiro protesto de massas contra a ditadura desde a edição do Ato Institucional Nº 5, sete anos atrás.

Fonte: Portal Vermelho 19/10/2004

Tonny
Author: Tonny

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