Discussão sobre violência vira crise
O que deveria ser uma reunião entre entidades da sociedade civil e representantes do governo estadual, na manhã de ontem, terminou em um grande problema para o estado. Representantes do Sindicato dos Médicos, do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Associação de Psicanálise, outras instituições e familiares do psicanalista Antônio Carlos Escobar, 60 anos, morto no último sábado, em Boa Viagem, ficaram revoltados com a declaração do secretário de Defesa Social, João Braga, quanto à diminuição dos índices de violência em Pernambuco. Alguns participantes abandonaram a reunião e fizeram duras críticas à gestão atual.
A secretária chefe do Gabinete Civil, Lúcia Pontes, e o coronel Cláudio Silva, comandante da Polícia Militar também participaram do encontro.
Insatisfeitos, os representantes das entidades anunciaram a criação de um instituto para fiscalizar as ações desenvolvidas para conter a violência, o qual vai receber o nome do psicanalista assassinado ao tentar impedir um assalto. Para João Braga, o trabalho da SDS não é reconhecido pela sociedade. Também de acordo com o secretário, apesar de ainda estarem altos, os índices de criminalidade apresentam uma queda. Entretanto, o discurso de Braga não agradou à maioria das pessoas que entregou um manifesto ao secretário em defesa da vida.
O presidente do Cremepe, Ricardo Paiva, foi um dos que saiu da reunião antes do término e lamentou a posição do Governo. “Do jeito que o secretário apresenta a situação em nosso estado, eu entendo que Antônio Escobar é o culpado pela própria morte, pois, de acordo com João Braga, não existe falta de policiamento e o número de assaltos e homicídios está diminuindo”, destacou Paiva. Em uma declaração mais enfática, o presidente do Cremepe afirmou que “o Governo do Estado precisa fazer um teste de sanidade mental”. Ainda segundo ele, as autoridades não reconhecem que a segurança pública está afundando. “Vamos nos reunir na próxima terça-feira para avaliar os resultados de hoje (ontem) e iremos recorrer a outros órgãos. Esse caso será repercutido nacionalmente”, finalizou Paiva.
Uma das sobrinhas da viúva de Antônio Escobar, Cecília Lima, teve uma crise nervosa e saiu da reunião chorando. Ao descer as escadas do palácio, ela gritou que as mesmas pessoas que mataram o marido da tia podem matar os filhos dos responsáveis pela segurança no Estado. Já o presidente da OAB-PE, Júlio Oliveira, destacou a importância de um trabalho em parceira entre a sociedade e o poder público. “O resultado da reunião não foi o esperado. O que aconteceu no último final de semana foi o ápice da violência urbana. O Governo precisa ter humildade e mudar a forma de agir, cada vez mais estamos vendo que os números estão aumentando. Segurança pública é um dever do Estado, mas a sociedade civil está tentando ajudar”, completou Oliveira.
Sem concordar com as críticas feitas à sua atuação, o secretário João Braga reconheceu que os índices de criminalidade ainda são altos. “Nós nunca escondemos que os números estão altos; agora é preciso reconhecer que estamos realizando várias ações para tentar conter os crimes. Isso já pode ser notado com a redução de alguns números”, ressaltou Braga. Sobre a indisposição ocorrida durante a reunião, o secretário esclareceu que algumas pessoas se retiraram da sala no momento em que ele respondia a uma pergunta sobre as ações que o Governo está desenvolvendo para a segurança do Estado. “O que está acontecendo em Pernambuco acontece em todo o Brasil”, finalizou.
Fonte: Diário de Pernambuco – 22/12/2005