Desafio da educação é a qualidade – Publicada em 23.08.06
Os três principais candidatos ao governo de Pernambuco já traçaram projetos para a educação, área considerada por 8% dos eleitores como o principal problema do estado, segundo pesquisa do instituto DIARIO DATA Associados do último dia 13 de agosto. Em linhas gerais, Mendonça Filho (PFL), Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) destacam a necessidade de investir em formação de mão-de-obra qualificada para garantir o acesso aos novos empregos a serem gerados com as futuras instalações da refinaria Abreu e Lima, da Hemobrás, do estaleiro Atlântico Sul e do pólo têxtil – investimentos que têm a paternidade disputada pelos candidatos.
Mas enquanto forma profissionais qualificados, o estado ainda precisa resolver questões mais básicas da educação, como a alfabetização de crianças até oito anos e a evasão escolar. “O principal problema enfrentado pelo setor é a qualidade do ensino”, afirma o professor Alfredo Macedo Gomes, doutor em educação com especialidade em políticas educacionais, ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Alguns problemas antigos já estão mais encaminhados, como a universalização do acesso ao ensino fundamental e o financiamento do setor. É dever dos estados, de acordo com a Constituição Federal, aplicar, no mínimo, 25% dos recursos oriundos da cobrança de impostos para a educação. À União, cabe destinar 18%. O orçamento da educação em Pernambuco é R$ 1 bilhão, de recursos próprios e do Ministério da Educação.
“A questão inicial era oferecer vagas para todos, agora, precisamos assegurar a permanência dos alunos nas salas de aula”, explica Gomes. O professor ressalta que depois de um ou dois anos da matrícula, esses alunos entram em um processo de repetência e se desestimulam. “Isso também é provocado pelas condições sócio-econômicas da população e do sistema seriado, mas precisamos fazer um esforço para resolver a questão. Ainda faltam políticas educacionais voltadas para a permanência dos estudantes nas salas de aula”, opina.
Gomes aponta três pontos fundamentais para alcançar esse objetivo: investir em condições de trabalho adequadas (infra-estrutura das escolas), valorização do professor e a apropriação do conteúdo pelos estudantes. “Temos um problema crônico que é a falta de professores, por isso, precisamos rediscutir as condições de trabalho”, justifica. Além da formação e qualificação dos profissionais, Gomes lembra a importância de rever a remuneração e os contratos dos professores.
A Prova Brasil foi a última avaliação realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Mec, sobre o ensino do país. O estudo analisa o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática das 4ª e 8ª série do ensino fundamental. Embora o estado tenha apresentado um crescimento nos índices da pesquisa, ainda ocupa o 24º lugar no ranking nacional da 4ª série e o penúltimo no da 8ª série. “Ainda enfrentamos muitos desafios, como ampliar o acesso à educação infantil e investir mais na educação das 5ª a 8ª séries”, afirma a secretária executiva da secretaria de Educação, Sara Lima.
Mendonça: ensino em tempo integral
Elevar de 13 para 50 o número de centros de ensino experimental, permitindo a 50 mil estudantes do ensino médio (segundo grau) a permânência na escola em tempo integral. Essa é uma das principais metas do programa do governador-candidato Mendonça Filho (PFL) para educação. Hoje, já existem unidades no Recife e em Ipojuca (RMR), Serra Talhada (Sertão do Pajéu), Cabo (RMR), Palmares (Mata-Sul), Garanhuns (principal cidade do Agreste Meridional), Abreu e Lima (RMR), Bezerros (Vale do Ipojuca), Panelas (Agreste Meridional), Timbaúba (Mata-Norte) Arcoverde (Sertão) e Petrolina (Sertão do São Francisco.
Nos centros educacionais, os alunos têm atividades das 7h às 17h, com direito a três refeições. As aulas são ministradas com auxílio da televisão e DVD. Em cada escola há laboratórios de ciências, bibliotecas. Os professores recebem capacitação pedagógica e salários diferenciados. Outros tópicos do programa são a promoção da alfabetização de crianças de até oito anos, universalização das matrículas do ensino médio, correção do fluxo idade-série e ampliação do programa de acesso de alunos da rede pública à universidade.
Para alcançar tais objetivos foram estabelecidas metas: formação continuada dos 27 mil professores, criação de programa de melhoria na qualidade do ensino fundamental, construção de dez escolas e ampliação de outras 50, criação de 200 laboratórios de informática e modernização dos 100 existentes, entre outras.
Capacitar jovens é meta de Eduardo
Investir na capacitação profissional dos jovens é uma das metas do candidato da Frente Popular ao governo, Eduardo Campos, para recuperar o setor de educação no estado. A idéia do socialista é criar uma rede de escolas técnicas que possa atender todas as microregiões e identificadas com a vocação econômica de cada município. Para proporcionar uma preparação mais sólida aos estudantes, o candidato disse ter, ainda, a intenção de promover o acesso aos meios de informação. “Principalmente os digitais e aos bens culturais, para ampliar as experiências e a formação humanística”, destacou.
Outra proposta de Eduardo é de avançar com a interiorização das universidades, programa iniciado no governo Lula. “Nosso governo cuidará para que, além das escolas técnicas, cada microregião tenha campus de universidade pública (federal e estadual) para pesquisar a realidade física, social e econômica de cada localidade e, deste modo, contribuir para o desenvolvimento do estado”, pontuou.
Para fundamentar suas propostas, osocialista se baseou num estudo feito pelo PSB, em 2003. Segundo a pesquisa, a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais, de áreas urbanas, era de 13%, o que equivale ao dobro da média nacional (5,7%). Em relação a população negra, o percentual era de 18,9% contra 12,9%.”Esses dados, mostram a deficiência das políticas educacionais para os estratos menos favorecidos da população. Para que possamos aproveitar os novos horizontes econômicos temos que fazer o dever de casa”.
Humberto pretende recuperar escolas
Um plano de emergência para recuperar a infra-estrutura física das escolas está entre as prioridades do candidato a governador Humberto Costa (PT). O petista, que elegeu a educação como uma das prioridades, disse ser necessário, logo de início, terminar as “obras inacabadas” deixadas pela atual gestão. “Também vamos dar prioridade à implantação de bibliotecas, de laboratórios e equipamentos de informática para a melhoria da aprendizagem”, acrescentou.
Defensor de uma maior “democratização” dos centros experimentais de educação nos pólos regionais, Humberto prometeu ampliar o acesso ao ensino médio e estabelecer uma política ativa para garantir, nas salas de aula, as disciplinas de matemática, química, física e biologia. “Não é possível permitir que nossos alunos da rede pública cheguem ao vestibular sem assistir aulas dessas disciplinas, como ocorre, atualmente, em nosso estado”, declarou.
Além da correção do fluxo escolar, como já propôs o professor da UNB e especialista em educação Marcos Formiga, Humberto quer apresentar opções diferenciadas para o ensino médio. Ele defende a ampliação da jornada escolar, em parceria com o governo federal e com o sistema S (Senai e Senac), para que os estudantes possam obter uma formação profissional. Pelos dados da equipe do programa do PT, Pernambuco está cerca de 50% abaixo do que é oferecido em termos de cursos profissionalizantes. “O estado precisa e os nossos jovens merecem um ensino público de qualidade para todos”, reforçou.
Fonte: Diário de Pernambuco publicada em 23.08.06