Batalhão de Choque intimida grevistas da Saúde – Publicado em 26.11.2004
Apesar da intimidação feita pelo Batalhão de Choque em hospitais e na Secretaria Estadual de Saúde, do cancelamento das negociações e da ameaça de demissão feita pelo Governo do Estado, os servidores da saúde mantêm a greve, que chega hoje ao décimo dia. Ontem, cumpriram todos os protestos programados, de panelaço à passeata.
Como fazem desde o início do movimento, eles estão garantindo os serviços essenciais em emergências, enfermarias e UTIs, fazendo manifestações pacíficas e não pretendem desmobilizar as equipes concentradas na porta das unidades de saúde. Lutam por melhores salários e condições de trabalho no SUS de Pernambuco.
Às 9h de hoje, os grevistas fazem assembléia no auditório do Hospital da Restauração, no Derby. Os servidores ainda esperam pela retomada do diálogo e de um reajuste que eleve pelo menos o salário-base dos funcionários de nível médio e elementar ao valor do salário mínimo (R$ 260) e corrija as distorções da remuneração de profissionais de nível superior não-médicos. Eles ganham, hoje R$ 157 (elementar), R$ 181 (médio) e R$ 488 (superior).
LEGISLATIVO – Na tarde de ontem, os servidores pediram ao presidente da Assembléia Legislativa, Romário Dias (PFL), que interceda junto ao governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) em favor da reabertura das negociações. Depois de ouvir discursos de parlamentares em apoio aos trabalhadores, Romário disse, no plenário, que fará o possível para que o impasse seja resolvido. Uma comissão interpartidária, formada na terça-feira por líderes do Governo, da oposição, e da Comissão de Saúde, está propondo uma saída alternativa.
Em vez dos 11% oferecidos pelo Estado, os deputados sugerem cerca de 20% de reajuste salarial, o que causaria um impacto na folha mensal de R$ 3 milhões. “Esse valor não é muito grande, considerando que 22 mil servidores entrarão nessa conta. O reajuste dos cinco mil médicos gerará um impacto de R$ 2 milhões”, explica Isaltino Nascimento (PT), membro da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa.
Os grevistas foram à Assembléia Legislativa depois de um panelaço em frente à Secretaria Estadual de Saúde e de uma passeata que percorreu trechos da Avenida Conde da Boa Vista e da Rua da Aurora. Durante a manifestação na porta da SES, onde foram impedidos pelo Batalhão de Choque de ficar na calçada da secretaria, e no percurso da passeata, os trabalhadores receberam apoio do público, manifestado em acenos, buzinas e depoimentos. A gerente de uma loja de discos, na Conde da Boa Vista, tocou Para não dizer que não falei das flores (de Geraldo Vandré), símbolo da luta sindical nos anos 80. “É uma homenagem à luta desses trabalhadores”, explicou Jaciara Wanderley.
Promotora questiona presença da polícia
A promotora da Saúde do Ministério Público Estadual, Ivana Botelho, envia hoje, à Secretaria de Defesa Social, ofício pedindo esclarecimentos sobre a presença do Batalhão de Choque nos hospitais públicos e questionando se os policiais deslocados para os prédios estão sendo advertidos de que nesses locais há servidores exercendo o livre direito de greve.
Ivana Botelho tomou essa decisão numa reunião com representantes de sindicatos e de conselhos profissionais, ontem. Os trabalhadores relataram abusos cometidos por militares, que vêm intimidando grevistas. Na manhã de ontem, o Batalhão de Choque fez plantão na porta do Hospital Barão de Lucena e na Restauração.
Trinta e cinco homens, vestidos e armados para um possível confronto, fizeram a guarda da Secretaria Estadual de Saúde, que amanheceu cercada por cordas. A ordem, segundo o capitão que comandava a tropa, era evitar a invasão do prédio e a obstrução do trânsito. Ele, no entanto, impediu que o comando de greve, formado por representantes de mais de 20 entidades, permanecesse completo na calçada da rua. Só cinco pessoas poderiam ficar no local.
A Promotoria também quer saber da Secretaria de Saúde se os serviços essenciais estão sendo mantidos nos hospitais e se está havendo contratação de pessoal para substituir grevistas. “Não se pode mudar um quadro inteiro de um dia para o outro”. O Estado terá dois dias para se esclarecer.
Conselhos condenam ameaças de demissão
Presidentes de 12 conselhos regionais de profissionais de saúde reagiram, ontem, à ameaça de demissão de servidores em greve e de substituição dos mesmos feita pelo Governo do Estado. Maristela Menezes, presidente do Conselho Regional de Serviço Social, que falou pelos demais colegas, disse que os profissionais que substituírem grevistas poderão ser punidos por infração ao Código de Ética, que prevê até cassação para esses casos. “Lutar por melhores condições de trabalho é legítimo. Alertamos aos colegas que não aceitem esses contratos”, disse.
Segundo ela, na última quarta-feira, o Hospital da Restauração queria contratar três enfermeiras. “Apelo também para que as chefias não pressionem trabalhadores a voltar ao trabalho”. A Justiça mandou voltar ao trabalho na semana passada, mas os sindicalistas dizem não ter sido notificados oficialmente. A posição expressada por Maristela é respaldada pelos conselhos profissionais de Enfermagem, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Farmácia, Biomedicina, Educação Física, Biologia e Veterinária.
Maristela considerou que o Governo do Estado chegou ao limite do desrespeito. “Estão nos tratando como bandidos”, disse, referindo-se à presença ostensiva da PM nos locais de greve. Luiz Torres, do fórum de servidores, lembrou que o movimento é pacífico e que os grevistas não querem confronto com os trabalhadores da Polícia Militar.
Fonte|: Jornal do Commércio – 26.11.2004