ARTIGO – Raul Seixas revisitado – Publicado em 18.08.2006
ARTIGO
Raul Seixas revisitado
Publicado em 18.08.2006 Jornal do Commércio
ARONITA ROSENBLATT
Em 21 de agosto de 1989, falecia
Fazia filosofia sem o saber (“Eu não sabia que era filosofia aquilo que eu pensava”) e naqueles anos, cantou: “Mamãe, não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito, e alguém pode querer me assassinar… Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz..” tudo dito há mais de 20 anos poderia ter sido dito hoje.
O filósofo maluco se foi e o seu mundo interior, rico e intenso, já apontava para a destruição dos sonhos de uma sociedade sofrida e desiludida dos anos em que ele já não mais viveria. Sim, eram tempos de sonhos. Não diria que hoje sonhamos menos, posto que com a idade encurtamos as noites de sono para pensar em uma sociedade mais igualitária. Para isso, ao ouvirmos a repetição: “Mamãe, não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito e alguém pode querer me assassinar”, podemos entendê-la no sentido figurado: matar sonhos.
É por isso que, como participante antiga da comunidade UPE, Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação pela terceira vez, participante ativa do processo de reconhecimento da antiga Fesp como universidade, vejo com entusiasmo a candidatura do professor Carlos Calado para suceder o professor Emanuel Dias como reitor, pelo período 2007-
O professor Calado, em sua gestão junto à Poli, mostrou ter coragem para arrumar a casa, pensar o novo, implantar dois mestrados com programas inovadores, esboçar um terceiro e fazer da Escola Politécnica de Pernambuco a primeira escolha da área de tecnologia, dos jovens nordestinos. Contemplou a construção de área física diferenciada, expandindo a Poli com recursos próprios. Dotado de um espírito elevado e democrata, medido pela história política de uma trajetória pública ilibada. Tem, entre suas metas, consolidar uma universidade pública, com o objetivo político-administrativo de obter autonomia, como todas as outras universidades públicas brasileiras já o têm. A UPE já se constitui em uma marca na sociedade. Em 15 anos de história, deu demonstrações de arvore bem plantada em solo pernambucano. Suas ações no sentido de reduzir distâncias entre segmentos sociais menos aquinhoados tornaram a universidade uma grande parceira do Estado e lhe confere vitalidade. A autonomia universitária lhe permite enxergar a diferença entre Estado e governo: os governos passam, os sonhos são ressuscitados, as pessoas se renovam e, graças à vida, outros querem ser gestores, que sejam eleitos e façam renascer um sonho de um povo sofrido. Vamos manter acesa a chama da autonomia e de uma instituição de ensino superior que sabe resistir, assim como o soube o caubói, que se disse fora da lei. De que lei falava ele?
Aronita Rosenblatt é pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UPE.