A “prima pobre” da interiorização – Publicada em 14.09.2010

Reportagem aborda tema que vem sendo objeto de preocupação da ADUPE: O crescimento sem qualidade

O Diário de Pernambuco de hoje (14/09/2010) traz reportagem abordando a interiorização do ensino superior em Pernambuco. O post_content retrata uma realidade que vem sendo objeto de preocupação da ADUPE: Enquanto nas universidades federais (UFPE, UFRPE e UNIVASF) a interiorização acontece de forma estruturada, na Universidade de Pernambuco o crescimento não vem sendo acompanhado da infraestrutura necessária (salas de aula, laboratórios, contratação de professores e servidores etc). Leia a reportagem a seguir.


A “prima pobre” da interiorização

Rede estadual de ensino superior no interior de Pernambuco sofre com a falta de professores efetivos e de recursos do Reuni
Mirella Marques

Embora a Universidade de Pernambuco (UPE) seja pioneira na interiorização do ensino superior no estado, através dos centros de formação de professores instalados no fim da década de 1960 nas cidades de Petrolina e Nazaré da Mata, a infraestrutura dos cursos ofertados pela rede estadual no interior não é a mesma da rede federal. Sem direito aos recursos do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), destinado exclusivamente às instituições federais, o dinheiro da UPE anda curto para as ampliações. O principal problema da expansão na rede estadual é a falta de professores nos quadros efetivos. E a situação pode ser agravada com a instalação, no ano que vem, de mais três campi em Arcoverde, Serra Talhada e Salgueiro, todos no Sertão. Em Nazaré da Mata, onde funcionam cinco cursos de licenciatura, além de pedagogia; há uma proporção de 37 alunos por professor universitário, quando o recomendado pelos parâmetros do Ministério da Educação(MEC) é uma proporção de até 18 alunos por cada mestre.

“A falta de professores efetivos atrapalha a qualidade dos nossos cursos porque acabamos selecionando professores do ensino médio das escolas estaduais para dar aulas na universidade. Eles são chamados professores à disposição. Aqui existem 56 docentes efetivos e 50 à disposição”, explica o diretor do campus de Nazaré da Mata, Luís Alberto Rodrigues. A professora do curso de letras Rilda Barros faz parte do grupo. Ela leciona quatro disciplinas (introdução aos estudos linguísticos, introdução aos estudos de língua portuguesa, semântica e estilística e prática 2), quando o recomendado pelo MEC é de até três cadeiras por professor.

“Estou tão acostumada com essas disciplinas que não me sinto sobrecarregada. Para mim, é melhor estar aqui na universidade do que estar na rede estadual, já que a carga horária é menor”, admite. No campus Petrolina, os problemas são de infraestrutura. O teto do auditório ameaça desabar e até os copos plásticos são comprados comdinheiro de professores e funcionários. Essas dificuldades, que podem interferir no desempenho dos alunos, contrastam com a estrutura da rede federal. Menor, mas melhor organizada. A impressão que dá é que a UPE só se preocupou em expandir sem olhar para os campi mais antigos. A pressa por estar presente em todas as regiões faz com que os cursos de saúde, por exemplo, sejam iniciados sem que todos os laboratórios estejam concluídos.

“Em 2006, abrimos três novos cursos da área de saúde (enfermagem, fisioterapia e nutrição). Mas temos uma carência de 38 professores para os novos cursos que ainda não foram contratados. Sem falar que precisamos também de funcionários administrativos. São apenas 28 para atender uma demanda de 4 mil alunos”, justifica a diretora do campus Petrolina, Socorro Ribeiro. O curso de medicina do campus de Garanhuns, que já está sendo ofertado no vestibular deste ano, ainda não tem uma sala de aula pronta. As aulas, segundo o cronograma, estão marcadas para o segundo semestre de 2011. De acordo com o diretor Pedro Falcão, já existe um déficit de oito professores no atual quadro efetivo da unidade.

Apesar das dificuldades, o desempenho dos alunos de Nazaré da Mata foi bom no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que avalia a qualidade das graduações no país. Os cursos de letras, história e geografia alcançaram nota 4 no exame, numa escala que varia de zero a cinco. Em Petrolina, a concorrência continua grande pelas vagas ofertadas, principalmente às da área de saúde. Em Caruaru, muitos alunos chegam do Recife para estudar administração (com ênfase em marketing de moda) e sistemas de informação. Este último curso conquistou nota 5 no Enade, a mais alta alcançada pela instituição estadual no exame.

Segundo o reitor da UPE, Carlos Calado, a universidade investe na interiorização para fortalecer a fixação dos jovens em suas regiões. Ele explica que parte dos recursos investidos na expansão vem através de emendas dos deputados federais de Pernambuco. Mas que a receita chega aos poucos e que, apesar das dificuldades enfrentadas em alguns campi, a qualidade dos cursos é mantida. “A nossa meta é fazer com que a UPE tenha a mesma infraestrutura independentemente de onde esteja”, informa.

Investimentos

Quanto já foi gasto em cada campus do interior?

UFPE

Campus Vitória de Santo Antão – R$ 7,7 milhões (dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia) + R$ 4 milhões (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais)

Campus Caruaru – R$ 32 milhões (dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia)

UFRPE

Campus Garanhuns – R$ 18,5 milhões (obras e equipamentos de 2005 a 2010 com recursos do governo federal)

Campus Serra Talhada – R$ 19,5 milhões (obras e equipamentos de 2006 a 2010)

UPE

Campus Caruaru – R$ 600 mil (com a compra de equipamentos, mobiliário e livros de 2008 a 2010)

Campus Garanhuns – R$ 5 milhões (compra de equipamentos, livros e a construção de obras de 2008 a 2010)

Campus Petrolina – R$ 536 mil (com a compra de equipamentos e livros de 2005 a 2009, com recursos da própria unidade)

Campus Nazaré da Mata – R$ 3,5 milhões com construção de obras e compra de equipamentos de 2005 a 2010 (R$ 2,8 milhões do MEC e o restante de repasses do governo do estado)

Campus Salgueiro – R$ 200 mil (com a compra de livros e equipamentos de 2008 a 2010)

Univasf

Campus de Petrolina (PE), Juazeiro (BA), São Raimundo Nonato (PI) e Senhor do Bonfim (BA) – R$ 120 milhões (gastos feitos de 2005 a 2010)

Excelência no ensino e na infraestrutura

A expansão das universidades federais começou há cerca de seis anos e ainda é considerada tímida no estado. Afinal, as instituições já existem há pelo menos 50 anos e só há seis inauguraram unidades nos municípios do interior. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) instalou campus em Vitória de Santo Antão e em Caruaru. Já a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) está presente nos municípios de Garanhuns e Serra Talhada. Apesar da interiorização acanhada, as unidades funcionam com excelência. Parte do sucesso vem do apoio dado pelo Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que já garantiu milhões aos campi do interior (ver quadro). Em algumas universidades, como a de Serra Talhada, a rotatividade de professores ainda atrapalha o bom andamento dos cursos. Mas, em linhas gerais, as graduações funcionam sem grandes problemas, contando tanto com professores qualificados quanto com boa infraestrutura.

Praticamente todas as salas são climatizadas, existem laboratóriosbons para a maioria dos cursos e as bibliotecas possuem um acervo invejável para os padrões regionais. Foi por conta dessa estrutura que o estudante Hélder Cavalcanti, de Petrolina, decidiu sair de casa para fazer o curso de letras na UFPE de Serra Talhada. A questão é que letras também é ofertado no campus Petrolina da Universidade de Pernambuco (UPE). “Acho que o curso lá era mais fraco, com poucos professores. Por isso preferi tentar uma vaga na Rural. Aqui, o curso é muito bom, além de termos ótimos professores”, opina o aluno, que desde o início do ano está morando em Serra Talhada. Outro atrativo para os feras são as bolsas de pesquisa da rede federal, mais abundantes que na universidade estadual.

Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), a primeira unidade federal na região do São Francisco, a arquitetura moderna impressiona. Os nove prédios do campus-sede, em Petrolina, são propositalmente semelhantes às construções de Brasília (DF). Nos laboratórios existem equipamentos de ponta ecada professor possui uma sala própria, com ar-condicionado e gabinete. Não é à toa que as graduações ofertadas sejam procuradas por alunos de todo o Brasil.

“Oferecer conforto e boas condições de trabalho é essencial para que possamos manter os professores mais qualificados aqui na universidade. Boa parte deles vem do Sul e do Sudeste. Caso contrário, não há nada que faça com que eles se fixem numa região distante como a nossa”, explica o reitor da Univasf, José Weber. Ele lembra, no entanto, que nem sempre a infraestrutura foi a mesma que enche os olhos dos visitantes hoje. “A Univasf começou, há quase seis anos, dentro de uma casa alugada. O departamento de recursos humanos, por exemplo, funcionava dentro da cozinha”.

O percentual de alunos da universidade que conseguem emprego logo após a formatura chama a atenção. Da última turma de enfermagem, todos os 18 formandos saíram empregados na própria região. “Antes mesmo da formatura recebemos ligações de empresas interessadas em contratar nossos alunos. Eles sempre ligam e perguntam quem são os destaques”, informa Weber.

Tonny
Author: Tonny

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