Greve geral faz governo jogar duro com servidor – Publicada em 23.03.2006
Estado cortará ponto e abrirá inquéritos administrativos contra grevistas. Paralisação vai atingir cerca de 70 mil funcionários
O governo do Estado endureceu e vai, a partir de hoje, cortar o ponto dos servidores que continuarem em greve. A decisão foi anunciada, em nota oficial, às 20h de ontem pelo Núcleo de Coordenação do governo, formado pelo vice-governador Mendonça Filho e mais quatro secretários, e despertou a revolta dos trabalhadores, que decretaram greve geral, pela manhã. Antes mesmo da radicalização do movimento, o governador Jarbas Vasconcelos já havia declarado que não iria tolerar a mobilização, classificada por ele como eleitoreira e partidária.
Na nota, o governo também afirma que vai instaurar inquérito administrativo contra aqueles que continuarem em greve, “para apuração de responsabilidades a fim de restabelecer a normalidade dos serviços públicos.” Jarbas reiterou que só concederá o reajuste que poderia dar para todas as categorias, os 10% propostos no projeto de lei número 1.244/06.
Num encontro com o prefeito do Recife, João Paulo, ontem à tarde, o governador foi mais além nas críticas. “Os servidores estão querendo um Papai Noel e isso o Estado não pode ser”, disse. Em entrevista à Rádio Jornal, de manhã, afirmou que não admitiria greve para intimidá-lo. “Eu saio no dia 31 e tenho certeza de que Mendonça Filho também não vai ceder às pressões e manterá o Estado ajustado”, disse o governador.
A nota oficial do núcleo do governo também fez questão de classificar as greves de oportunistas. “No bojo desses movimentos grevistas, passou a ser flagrantemente cristalino o propósito explícito de aproveitamento oportunista do momento político, para se criar embaraços ao governo do Estado”, diz o post_content.
Numa tentativa desesperada de ainda conseguir sensibilizar o governo e a população, todas as categorias em greve (quase 70 mil servidores) fazem grande passeata hoje pela Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife. A concentração é às 10h, na Praça Oswaldo Cruz, Boa Vista.
“Para nós não há outro caminho senão manter a greve. O governo se mostra radical, intolerante e intransigente. Ele só quer impor sua proposta, sem diálogo. Só temos a lamentar que a população esteja no meio dessa disputa”, disse o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Pernambuco (Sindiserpe), Renílson Oliveira.
Os cerca de 25 mil funcionários de oito secretarias, cinco fundações e cinco autarquias que pararam as atividades ontem por tempo indeterminado são ligados ao Sindiserpe. Entre as instituições cujos servidores vão parar estão o Hospital dos Servidores do Estado e a Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac).
Além deles, já paralisaram as atividades os mais de 45 mil trabalhadores da Polícia Civil, Saúde, Hemope, Universidade de Pernambuco (UPE) e Detran. Todas as greves foram deflagradas nos últimos 30 dias.
O Sindiserpe permanece exigindo que os 13 mil servidores que ainda recebem menos de um salário mínimo tenham direito ao piso estabelecido por lei para os trabalhadores. Com a decisão do governo de só conceder de 8% a 10% de reajuste, esse contingente deve aumentar para 23 mil pessoas. (Fonte: Jornal do Commércio – 23.03.2006)