Federais perdem 2.200 pesquisadores ao ano

As universidades federais deixaram de formar, anualmente, mais de 2.200 pesquisadores, pelo menos desde 1999 -são alunos que não concluíram a pós-graduação.

Em 2004, a cada 8 titulados, houve 1 estudante que interrompeu, por abandono ou desligamento, seu mestrado ou doutorado em instituição federal, segundo dados de um levantamento em fase de finalização da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Ministério da Educação.

Ao todo, 647 mestrandos e 155 doutorandos decidiram, por vontade própria, renunciar à pesquisa e não continuar o curso. Outros 1.091 mestrandos e 335 doutorandos foram afastados de suas atividades estudantis pelas escolas.
O desligamento é caracterizado pelo não-cumprimento das re-gras estabelecidas pelas próprias instituições, que podem ter como critério desde rendimento acadêmico e qualificação até um pedido formal do orientador do aluno.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, apesar de o índice não ser considerado elevado -sendo até equiparado a países como os Estados Unidos-, as causas que levam à fuga de estudantes são resultado das deficiências do próprio sistema de ensino.

“A evasão é um sintoma. Os programas de pós-graduação não estão voltados para uma ampliação temática e mantêm uma grade disciplinar velha e corporativa. Isso provoca o desestímulo”, aponta o antropólogo José Jorge de Carvalho, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Já na opinião do consultor e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, é preciso ponderar que a grande maioria dos alunos consegue receber a titulação.

No entanto, ele diz que a pós-graduação pede reforma urgente e defende o foco em dois pontos: na síntese do programa acadêmico, que deveria facilitar o acesso direto ao doutorado, e na maior oferta de cursos de mestrado profissional. “A pós é excessivamente “larga”, toma sete anos [do pesquisador]. Se tem condições, ele deve entrar direto no doutorado.”

Prejuízos a todos

O ex-ministro estima em US$ 10 mil anuais (cerca de R$ 22,5 mil), em média, o custo do aluno de pós-graduação para o país.

Para José Jorge de Carvalho, o prejuízo é menos financeiro que intelectual. “Os cursos estão ficando homogêneos e homológicos”, diz o antropólogo, que defende ainda a inclusão de cotas para negros na pós-graduação.

“A prática nos diz que a evasão é menor entre os bolsistas”, destaca Marcos Ávila, coordenador do mestrado do Instituto Coppead/ UFRJ. “Via de regra, grande parte dos programas só aceita o aluno que tenha bolsa de estudo ou que se comprometa por escrito a não abandonar o curso”, completa.

Renato Janine Ribeiro, diretor de avaliação da Capes, afirma que a evasão “não é preocupante”.

“A chave da pós é a existência de um vínculo entre o orientador e o aluno. Temos investido nos últimos anos em pontos como dissertações de qualidade, orientador com produção científica e vínculo entre a área de pesquisa de ambos. Com isso, é natural que o desempenho passe a melhorar”, diz.  Fonte: Folha de S.Paulo

Tonny
Author: Tonny

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