Fórum social começa amanhã e deve reunir mais de 120 mil pessoas – 25.01.2005
Agência O Globo
PORTO ALEGRE – Está tudo pronto para o Fórum Social Mundial 2005, que será aberto na próxima quarta-feira e se estenderá até o dia 31, em Porto Alegre, reunindo mais de 120 mil pessoas, com mais de 2 mil atividades propostas por 5.700 organizações de mais de cem países. A informação é do Comitê Organizador Brasileiro.
As obras civis, envolvendo cerca de 150 mil metros quadrados construídos, já estão prontas no chamado Território Social Mundial, junto à orla do Lago Guaíba. Até amanhã deverá ser concluída a infra-estrutura de apoio.
“Estamos diante de um inequívoco sucesso em relação aos objetivos a que nos propusemos. O Fórum Social Mundial vem ganhando uma dimensão internacional cada vez maior”, explicou o diretor-geral da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais, integrante do Comitê Organizador, Jorge Durão.
O evento, em sua quinta edição, apresenta este ano algumas alterações que deverão dar maior legitimidade ao seu formato mundial. Enquanto até o momento os temas eram definidos em pesquisa aplicada junto a organizações de todo o mundo, para a edição de 2005 foi feito um amplo levantamento que teve a participação de 1.860 entidades.
Elas se manifestaram em relação aos temas que consideravam essenciais para serem tratados no evento e aos temas que a própria instituição iria tratar em Porto Alegre. A partir daí é que se definiram os 11 espaços temáticos, onde se concentrarão os maiores debates.
Eles abrangerão o pensamento autônomo, a defesa das diversidades, a comunicação, os bens comuns da Terra e dos povos, as lutas sociais e alternativas democráticas, paz e desmilitarização, construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos, economias soberanas, direitos humanos e ética.
“Este será um fórum autogestionado. Não é uma grande feira, bazar ou uma colcha de retalhos, mas um espaço que cria possibilidades de diálogo e aglutinação”, destaca a representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) no Comitê Organizador Brasileiro Moema Miranda.
PRÁTICAS – O Comitê Organizador ressalta que o Fórum Social Mundial não tem se limitado a debates e também vem resultando em inúmeras iniciativas ao longo de todo o mundo, como a mobilização que, na edição anterior, envolveu 15 milhões de pessoas contra a guerra no Iraque.
“Também deverão ser lançadas grandes campanhas como a luta contra a Alca, a luta contra a dívida pública, o direito à água, uso do software livre e, entre outras, a Campanha pela Quebra de Patentes nos Medicamentos”, acrescentou o representante da Associação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos no Comitê Organizador Brasileiro Antonio Martins.
Caminhada pela paz anuncia evento e deixa celebridades sem cachê
PORTO ALEGRE – A abertura do fórum, no dia 26, será antecedida pela Caminhada da Paz, que deverá mobilizar milhares de pessoas e delegações de todo o mundo, entre o ponto mais central da capital gaúcha, o Largo Glênio Peres, e o Anfiteatro Pôr-do-Sol, na orla do Guaíba, onde ocorrerá a solenidade de abertura. Este ano, esclareceu o Comitê Organizador, nenhum artista ou celebridade que participar do evento receberá cachês.
“Optamos por utilizar os recursos do Fundo de Solidariedade para garantir que ônibus de diversos Estados possam se deslocar até Porto Alegre”, revelou Moema Miranda, do Ibase. O orçamento do Fórum Social Mundial 2005, segundo o coordenador Jéferson Miola, será de R$ 14 milhões. A Prefeitura de Porto Alegre repassou R$ 2 milhões para a realização do evento e mobilizou 13 secretarias para apoio ao fórum.
Evento terá até moeda própria
Os txais vão ser usados apenas para facilitar troca de mercadorias
Folhapress
PORTO ALEGRE – O Fórum Social Mundial (FSM) 2005 vai adotar uma moeda própria: além de reais, dólares ou euros, também irão circular no espaço do evento cédulas de txais. A palavra, do idioma dos índios caxinauás, do Acre, significa “a metade melhor de mim em você”, segundo os organizadores.
Este ano, os coordenadores do FSM ampliaram a experiência da moeda própria, já usada em 2003, mas restrita ao Acampamento da Juventude. “A moeda será um meio de troca e não um fim em si. Os txais serão usados apenas para facilitar as trocas de mercadorias e não para sua acumulação. É uma tentativa de resgatar o valor original das moedas”, disse Ary Moraes, um dos coordenadores da área de economia popular e solidária do FSM 2005.
Segundo Moraes, os txais serão trocados no FSM por produtos levados pelos participantes, como CDs, alimentos, camisetas ou peças de artesanato. O próprio participante sugere os valores mínimo e máximo da mercadoria em txais. A avaliação será acompanhada por uma comissão.
Os txais recebidos poderão ser gastos no Mercado das Trocas Solidárias, que acontecerá diariamente das 12h às 20h (horário de Brasília). A aceitação dos txais por outros expositores presentes ao fórum é opcional.
“O txai será uma experiência para mostrar como uma moeda local pode ajudar a desenvolver a economia comunitária. Quanto mais o txai circular, mais a economia se potencializa e mais trocas serão feitas”, registrou Moraes.
DESIGUALDADE – Petistas históricos e integrantes de ONGs lançarão um movimento de combate à desigualdade econômica e social no País durante o FSM. Mudanças na estrutura tributária, maior participação popular na proposição de leis e reforma agrária estão entre os instrumentos propostos pela Associação Brasileira de Combate à Desigualdade (ABCD) para diminuir a diferença socioeconômica entre ricos e pobres.
A nova associação reúne, entre outros, o advogado e ex-deputado Constituinte pelo PT Plínio de Arruda Sampaio, o advogado e professor da Faculdade de Direito da USP Fábio Konder Comparato, o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, e o secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, Francisco Whitaker.
Sampaio diz que a idéia é pressionar o governo Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso Nacional para aprovar e executar leis que possam diminuir a desigualdade. “Vamos procurar fazer com que se torne um movimento de massas. Se tiver força, nós vamos para o ‘Diretas-Já’”, declara. Já Whitaker afirma que o objetivo do movimento é identificar ações concretas para redução da desigualdade. “Não vamos ocupar as ruas contra a desigualdade genericamente”, declara.