Educação? Não é com Tarso Genro
O ministro Tarso Genro portou-se como um magistrado diante do relatório da Unesco que classificou o sistema educacional brasileiro em 72º lugar numa lista de 127 países: “O resultado não é nem da história do atual nem do último governo, mas a história de sucessivos governos que não tinham sentido republicano, estratégia, e não consideravam a educação um bem público essencial. (…) Queremos que o governo atual seja um marco que fará essa virada”.
Tomara, mas, se depender do doutor Genro, é improvável que isso aconteça. Pelo seguinte:
No domingo o ministro da Educação deu três entrevistas. Falou à Folha, ao “Globo” e ao “Estado de S.Paulo”. Discutiu seu livro “Esquerda em Processo”, um volume de 126 páginas, com 11 post_contents, cinco dos quais escritos depois de sua chegada ao governo federal, em 2003. Tarso Genro dispôs de um espaço equivalente a sete vezes o deste artigo. Tratou do “rebaixamento do horizonte utópico”, mas não pronunciou uma só vez, no singular ou no plural, as palavras “universidade”, “escola”, “educação”, “professor” ou “aluno”. Quando um entrevistador lhe perguntou se aplica no Ministério da Educação suas idéias políticas (disponíveis no livro), respondeu:
“Eu não ponho em prática no ministério as minhas idéias pessoais. Aqui no MEC eu estou comprometido com um programa de governo, que é plural, filosoficamente laico e profundamente democrático. Acho que não cabe ao ministro aplicar suas idéias”.
Tudo bem. Um país onde o ministro se orgulha de não aplicar suas idéias (sejam elas quais forem) no cargo que ocupa, tem muita sorte quando se classifica no início da segunda metade do mundo. O doutor Genro vai mais longe. No livro, refere-se à fusão nuclear e ao “manto fáustico-produtivista”. “Escola”, “professor” ou “aluno”, no singular ou no plural, nem pensar. Como o livro é dele, paciência.
Tarso Genro é um raro pensador político capaz de dissertar sobre “gestão da esquerda” e “utopia realista da esquerda” sem que as palavras “educação” e “universidade” passem pelo seu teclado. Por essas e outras, os brasileiros sustentaram (e sustentam) o bacharelismo verboso de “governos que não tinham sentido republicano, estratégia, e não consideravam a educação um bem público essencial”.
Fonte: Folha de São Paulo