Vacina para docente não pode ser passaporte para o retorno das atividades acadêmicas presenciais
Volta das aulas presenciais deve ser resultado de um conjunto de fatores que passam pela garantia das condições sanitárias, estruturais e vacinação em massa, destacam debatedores durante encontro promovido no sábado passado (05/06) pelo Andes-SN e Adupe.
Sindicatos e associações de docentes dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que integram a Regional Nordeste II do Sindicato Nacional Dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – Andes-SN reuniram-se, na manhã do sábado passado (05/06), para discutir o retorno das atividades acadêmicas presenciais nas universidades. O encontro foi realizado através de plataforma virtual e contou com docentes de universidades dos três estados.
A programação foi aberta 8:00, com a mesa “Retorno às atividades presenciais e a preservação da vida da comunidade universitária”, sendo palestrantes a professora Maria Regina Ávila Moreira (UFSC), Secretária-geral do Andes-SN e o professor Clélio Cristiano dos Santos (UPE/Campus Garanhuns), Vice-presidente da Adupe. Também integraram a mesa o presidente da Adupe, Luiz Oscar Cardoso Ferreira e o 2º Tesoureiro da Regional NE II do Andes-SN, Cauê Guion de Almeida, que coordenou os trabalhos.
Clélio Santos iniciou sua fala destacando que desde o início da pandemia a Adupe tem pautado suas ações e posicionamentos sempre colocando a preservação da vida em primeiro plano. Segundo ele, a entidade vem atuando com destaque nas comissões de acompanhamento da retomada das atividades presenciais no âmbito do serviço público estadual, uma vez que integra a Comissão Central, nomeada pela Secretaria de Administração e a Comissão Setorial, no âmbito da UPE.
O dirigente contou que, ainda em junho do ano passado, quando da primeira tentativa de imposição do retorno das atividades presenciais na UPE, a Adupe levantou a bandeira da vida em primeiro lugar, o que resultou na modificação da proposta inicial. Desde então, a atuação do sindicato em relação ao ensino presencial tem se baseado pelos seguintes princípios:
1 – Qualquer planejamento de reinício das atividades acadêmicas na UPE deve levar em conta as recomendações das autoridades sanitárias, de modo que estejam garantidas a saúde e a vida dos docentes, discentes e servidores técnicos administrativos da instituição;
2 – O planejamento de reinício das atividades acadêmicas deve, também, garantir a qualidade do ensino, os meios tecnológicos e a participação de todos, de modo que não haja prejuízos para nenhum aluno ou professor;
3 – O Governo do Estado deve disponibilizar os recursos necessários à garantia da segurança sanitária da comunidade universitária e da qualidade acadêmica.
Clélio alertou que as atenções se voltam agora para o teor da Portaria 712/2021, editada pela Reitoria da UPE em abril passado, que determina o retorno imediato ao trabalho presencial para servidores vacinados. A Adupe considera que a norma foi editada sem o debate necessário, tem viés punitivo e não leva em conta o momento grave da pandemia nem as especificidades do ambiente acadêmico.
Ainda que a universidade tenha abrandado as determinações da Portaria, a Adupe defende a sua revogação, uma vez que se faz necessária a discussão de um planejamento para o retorno às atividades presenciais à luz da ciência e da realidade das unidades de ensino.
Para a professora Regina Ávila, a inclusão dos docentes no cronograma de vacinação certamente trará o retorno presencial das atividades acadêmicas ao centro dos debates em todo o país. Ela alerta, no entanto, que obrigar professor a retornar ao trabalho por estar vacinado é reproduzir a política negacionista adotada pelo governo Bolsonaro.
“Pensar esse retorno vai exigir muito da gente. Há questões importantes a serem levantadas como, por exemplo, os parâmetros necessários para um retorno com segurança sanitária e educacional. Precisamos levar em conta as especificidades de cada local para que este retorno possa ocorrer”, afirmou.
Na mesma linha de entendimento, o presidente da Adupe, Luiz Oscar Cardoso Ferreira, defendeu que a vacinação de professores, por si só, não é suficiente para assegurar uma volta segura das atividades acadêmicas presenciais. Tomando como referência os parâmetros já consolidados pela ciência, o dirigente disse que é necessário que pelo menos 70 por cento de toda a população esteja vacinada e que a taxa de transmissão do vírus seja inferior a 1.
Os debatedores externaram ainda preocupação com os modelos de ensino remoto e ensino híbrido e sua propagação durante a pandemia. “Esses formatos não estão aí somente como conseqüência da pandemia, mas como parte de um projeto maior, de precarização da educação”, alertou Regina Ávila, sugerindo ainda uma ampla discussão sobre o assunto.
Ao final do debate, Luiz Oscar Cardoso disse que discutir a pandemia e suas consequências na universidade é tarefa do movimento sindical. Ele destacou a importância do encontro como reforço das bandeiras de luta mais urgentes dos sindicatos e movimentos sociais do país: “Fora Bolsonaro”, “Vacina já para todos”, “Auxilio emergencial de 600,00” e “Revogação da emenda constitucional 95”.
Na segunda parte da programação do encontro foram detalhadas as resoluções aprovadas durante o 11º Conselho Extraordinário do Andes-SN, realizado em março passado, e que teve como tema central: Em defesa da vida, dos serviços públicos e da democracia e autonomia do Andes-SN.