Além de tudo, guerreiras! Nossa homenagem às mulheres.
Nise da Silveira, Marielle Franco e Elza Soares são ícones da luta por respeito, direitos, igualdade e equidade. Em nome delas homenageamos todas as mulheres brasileiras.
Os dados oficiais comprovam: a desigualdade, a violência e a discriminação ainda perseguem as mulheres em todo o mundo. No Brasil os números são ainda mais alarmantes. De acordo com o IBGE, em 2019 o rendimento mensal das mulheres foi de 30% menor do que o dos homens e a taxa de desemprego entre as mulheres foi 34% superior à dos homens. Já o Atlas da Violência 2020 levantou que a cada 2 minutos uma mulher sofre violência doméstica. Além disso, uma mulher é morta a cada 7 horas apenas por ser mulher.
Mas essa realidade repugnante não diminui a força das mulheres. Em nossa história temos inúmeros exemplos de mulheres que não aceitaram essa realidade posta. Mulheres que fizeram e fazem de suas vidas exemplares trajetórias de luta por reconhecimento, por direitos e por igualdade. Mulheres que foram e são inspiradoras para um sem número de outras mulheres, que anonimamente travam lutas diárias contra o machismo, o preconceito e o desrespeito.
No dia Internacional da Mulher, escolhemos três delas, como fontes incontestáveis de inspiração para a luta das mulheres. Nize da Silveira, Marielle Franco e Elza Soares. Com atuações profissionais distintas (A primeira médica, a segunda política e a terceira cantora), cada uma a seu modo contribuiu e contribui para ressignificar a história das mulheres no Brasil.
NISE DA SILVEIRA
Nise Magalhães da Silveira ajudou a escrever e revolucionar a história da psiquiatria no Brasil e no mundo. Nascida em Maceió, Alagoas, em 1905, ela ficou conhecida por humanizar o tratamento psiquiátrico.
Foi uma das primeiras mulheres do Brasil a se formar em Medicina, em 1926, com apenas 21 anos, como única mulher numa turma com 158 alunos.
Expoente da luta antimanicomial, Nise é pioneira da terapia ocupacional e ajudou a mudar os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, ao se rebelar contra os métodos agressivos aplicados em pacientes com transtornos mentais, como eletrochoque, camisa de força e confinamento.
Em 1956, Nise fundou a Casa das Palmeiras, um passo na direção da luta contra os hospícios, que chegaria a seu ápice com a Lei Antimanicomial, de 2001. Um dos tratamentos desenvolvidos por ela foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente em pinturas.
A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. As obras estão expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, inaugurado por Nise em 1952 , no Rio de Janeiro e aberto até hoje.
Entre 1936 e 1937 Nise da Silveira foi mantida presa pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Nise da Silveira continua atual por ter quebrado paradigmas muito à frente de seu tempo. Seu legado como mulher, estudiosa e médica, continua vivo.
MARIELE FRANCO
Nascida na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle Franco foi socióloga, política e ativista dos movimentos sociais, sendo reconhecida por sua luta pelos direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias e na denúncia da violência policial.
Em 2016, na sua primeira disputa eleitoral, foi eleita vereadora na capital fluminense (PSOL). Como vereadora, Marielle atuou na questão da violência contra as mulheres, pela garantia do aborto nos casos previstos por lei e pelo aumento na participação feminina na política. Suas proposições legislativas buscavam garantir apoio aos direitos das mulheres, à população LGBTQI+, aos negros e moradores de favelas.
Sua atuação incomodou os poderosos. Tanto que em março de 2018 foi brutalmente assassinada em um atentado ao carro onde estava. Treze tiros atingiram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes.
Para seus algozes, fica a certeza de que os motivos pelos quais Marielle foi assassinada se incorporaram às lutas de homens e mulheres contra o autoritarismo e a violência e por um país igual.
ELZA SOARES
Nossa terceira inspiração é a cantora Elza Soares. Famosa pela voz rouca, Elza Soares é um dos maiores nomes da música popular brasileira. Sua história de vida conta com tragédias e reviravoltas memoráveis. Mais do que cantora, ela se diz sobrevivente.
Elza nasceu na favela carioca de Moça Bonita (atual Vila Vintém), em 23 de junho de 1930. Castigada pela vida de todas as formas, encarou a fome, a pobreza, o casamento forçado aos 13 anos de idade, a violência doméstica, a morte de quatro dos seus sete filhos e a ditadura militar.
A tragédia sempre fez parte da vida de Elza. Mas transgressão é quase um sobrenome para a artista, que sempre enfrentou as derrotas, driblou obstáculos, viajou por boa parte do mundo, foi do inferno ao céu, e nunca sucumbiu às intempéries que a vida lhe impôs.
Dona de uma voz potente, Elza Soares teve seu talento para a música reconhecido ainda menina. A rouquidão característica transformou-a em uma artista singular no cenário nacional. Sua discografia reúne nada menos do que 36 álbuns.
Seu legado é tão notório que a BBC de Londres a elegeu como a cantora do milênio, em 2000. Seu trabalho tem inúmeras premiações. Foi Indicada 4 vezes para o premio Grammy Latino, sendo vencedora do melhor álbum de musica popular brasileira, em 2016, com o álbum “A Mulher do Fim do Mundo”.
A trajetória de Elza Soares, da infância pobre ao sucesso, consagrada em discos que marcaram a música brasileira e seguem cativando gerações de fãs. Da mesma forma, sua atitude guerreira inspira a luta diária das mulheres brasileiras.
Espetacular a homenagem a essas três mulheres que tanto nos representam.
A luta das mulheres é de todos os Josés e Marias, é a luta dos oprimidos contra a opressão.