Outros aspectos e comentários relacionados à promoção a Professor Associado da UPE
Por: Fernando Buarque*
Diletos membros da ADUPE (e UPE),
Com curiosidade li, como sempre faço as comunicações do nosso sindicato. Como já lhes mencionei em outras oportunidades, penso ser muito importante manter todos informados e envolvidos no processo de lutas profissionais. Com alguma surpresa li que uma das bandeiras de luta é a mudança nos critérios de promoção a (Professor) associado, alegadamente questionando-se alguma pouca justiça e inclusividade (de docentes) pela legislação em vigor. Não me recordo que tenha havido alguma assembleia para eleger essa bandeira. Mas não me atenho fortemente a isso pois sei que na dinâmica atual algumas decisões não podem envolver todos. Gostaria de focar, portanto, meu comentário, construtivo – claro, na alegada pouca justiça e inclusividade.
Para isso gostaria de comentar que o cargo de professor associado não é uma criação da UPE. Ele guarda características acadêmicas intrínsecas e outras, também, individuais da UPE. Assim não podemos achar em nenhum momento que poucos associados na jovem UPE se deva exclusivamente à alegada rigidez da norma. Temos que, de forma crítica, entender que muitos docentes da UPE ainda não tem a produção acadêmica necessária para o cargo de associado. E isso não deve ser encarado de forma detrimental, mas como um fato a ser devidamente cuidado na consolidação da instituição. Assim o pensamento de alguns de que título de doutorado e tempo de serviço são critérios suficientes para a promoção pode incorrer em um grave equivoco. Necessários, são sim, esses dois critérios – claro, mas obviamente não são suficientes! Explico: a Academia é uma construção (uma das poucas existentes atualmente) onde o mérito antecede (ou deve anteceder) o tempo (de serviço). Nas instituições onde há produção de conhecimento consolidada o cargo de Professor Associado foi fundamental como incentivador de crescimento. Ele acelerou o processo de consolidação institucional e, de maneira tácita, pode reconhecer o mérito acadêmico tão centrais na verdadeira Academia de Platão e necessários no momento atual da UPE. E mesmo numa jovem universidade, ainda em consolidação como a UPE, esse ethos deve ser mantido! Caso contrário, não nos consolidaremos e teremos uma imagem institucional bastante questionável.
Faço agora uma comparação simples: imaginemos que um novo estado seja criado em nossa federação. Como reza a constituição esse estado deverá portanto ter uma polícia militar, e por conseguinte seus vários cargos (i.e. postos). O que quero comparar aqui é que mesmo nesse estado fictício esteja ainda em consolidação isso não daria direito moral de que algum integrante nessa nova policia fosse promovido a coronel sem haver cumprido todos os estágios esperados. E, principalmente, os padrões análogos aos dos outros estados da federação (aqui, outras universidades). Como então vamos querer que os Associados da UPE sejam diferente dos demais?! Eu poderia usar outras metáforas simples como essa onde haja alguma lógica hierárquica (independente do seu princípio norteador), por exemplo: a carreira diplomática, as carreiras empresariais etc.
Concluo este breve contraditório, suscitando a reflexão crítica – própria da Academia e de um estado democrático de direito, visando evitar que o bem comum particular de uma classe não sobrepuje os valores maiores das instituições. A sociedade pernambucana merece uma universidade forte; a UPE e a ADUPE devem buscar a melhoria da qualificação de seus docentes. Mas não necessariamente abaixar os critérios devidos, como se pensou no caso da promoção ao cargo de professor associado. Espero que todos leiam esta minha opinião como uma contribuição genuína de quem quer ver a UPE “lá em cima” (e por méritos dos seus integrantes). Estou escrevendo à 80 batimentos por minuto e peço que leiam assim também – não há nenhum outro sentimento aqui que não seja o de debater o assunto. Os problemas de legislação atinente ao cargo de associado não está nos critérios de promoção e sim na tabela salarial, isso é importante. Já informei ao meu sindicato que as diferenças de faixas salariais atuais estão INJUSTAS e POUCO CONVIDADITVAS (para novos Associados!). A saber: a diferença entre salários de Auxiliares e Assistentes é de 27% (aprox.); a diferença de faixa entre Assistente e Adjunto é de 30% (aprox.); e muito SUPREENDENTEMENTE, a diferença de faixa entre Adjunto e Associado é de SOMENTE 6% (aprox.). Infelizmente ainda não vi esse importante assunto ser discutido ou virar bandeira política (explicita).
– Vamos lá (construir uma universidade forte, socialmente referenciada, mas que seja também meritocrática e relevante).
PS: hipotetizo – se a diferença salarial entre Adjunto e Associado fosse como as demais, talvez isso estimulasse muitos docentes atualmente adjuntos a se qualificarem para o cargo de associado.
* Fernando Buarque, DIC PhD, Hab., SM IEEE, CNPq-PQ2, é Professor Associado da Universidade de Pernambuco-UPE, Líder do Grupo de Pesquisa em Inteligência Computacional, Coordenador do Mestrado Acadêmico de Engenharia de Computação e associado da ADUPE