Professor Associado – Reflexões e sugestões

Mudanças no processo de seleção do cargo de Professor Associado da Universidade de Pernambuco: algumas reflexões e sugestões mescladas na história de vida e formação

* Vera Lúcia Chalegre de Freitas

Profª. Adjunto da UPE- Campus Garanhuns

Apresentação

Este post_content trata de reflexões e sugestões quanto às mudanças que estão por advir no processo de seleção interna ao cargo de Professor Associado da Universidade de Pernambuco. Leva em consideração o Edital de Concurso que se encontra ainda vigente na página virtual da UPE.

O pressuposto que orienta as reflexões para este post_content é que faltam condições materiais e objetivas para os professores adjuntos das Unidades do interior do estado de Pernambuco ao menos se inscrever ao processo seletivo de professor associado, devido à inexistência de Cursos Strictu Sensu em seus Campi. Esse é o momento histórico da UPE.

Sabe-se que alguns docentes da UPE – Campus Garanhuns estão orientando no Programa MINTER/PRODEMA em convênio Universidade de Sergipe/Universidade de Pernambuco. Esse Strictu Sensu não deve ser aceito como critério de promoção a Associado, uma vez que outros campi não estão participando desse Programa.

Importante destacar que vários projetos já foram encaminhados à CAPES. Então o movimento de luta é real. No momento estamos no aguardo dos resultados do PGMADS – Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, bem como o Programa de Pós-Graduação em Letras. Para o caso UPE – Campus Garanhuns. Ressalta-se que outros Campi também enviaram suas propostas.

Acredito que mais importante do que pensar sobre o número de anos que um professor leciona e orienta no Curso Strictu Sensu da UPE é pensar e questionar. Quais as contribuições do professor quanto ao seu trabalho em dez (10) anos de UPE? Isto em termos de engajamento para o fortalecimento da Instituição, destacando-se pesquisa, ensino, extensão, bem como de gestão, envolvimentos sociais, como no engajamento de sindicato, por exemplo.

Em síntese, uma proposta de Professor Associado não pode ser para fortalecer alguns professores que participam de Strictu Sensu em dois ou três Campi da capital e os demais Campi do interior ficarem à margem do processo seletivo do Professor Associado. Isto não é uma ideia sustentável. E se é sustentável é para um pequeno grupo. Então não pode ser efetivamente viável uma proposta que não possibilita os benefícios a todos/as de forma justa.

Isto me levou inevitavelmente a tentar teorizar um pouco sobre essa questão para dar subsídio aos argumentos, e também contribuir com a formação do eu-outro, numa dimensão de completude – nós. Destaco que não poderia ser omissa ao que me incomoda e incomoda a tantos outros/as. Minhas primeiras reflexões concentram-se na questão: quando existo e quando os/as outros/as pessoas existem na minha história de vida e formação?

Das histórias de vida e formação à teorização da sustentabilidade: contributos para mudanças qualitativas ao processo de seleção ao cargo de Professor Associado, levando-se em consideração o que enceta a tríplice ensino-pesquisa-extensão

Iniciarei refletindo sobre “Sustentabilidade. O que é – O que não é”, tendo por base os pressupostos argumentativos de Boff (2012). Ele não pergunta, apenas afirma as duas dimensões e dá um show de competência nos seus escritos. Mostra os modelos atuais de sustentabilidade e suas críticas, bem como outros enfoques.  Vou destacar para este post_content um dos nove modelos de sustentabilidade apresentados pelo autor. Acreditando que o mesmo dê subsídios a discussão. Trata do modelo-padrão de desenvolvimento sustentável: sustentabilidade retórica.

Nesse modelo o autor chama a atenção sobre os discursos oficiais e das empresas, aonde o destaque vai para a frase de senso comum, logo compartilhada na sociedade, para ser sustentável o desenvolvimento deve ser: (a) “economicamente viável, (b) socialmente justo e (c) ambientalmente correto”. Chama o autor de “Triple Botton Line (a linha das três pilastras)” que deve garantir a sustentabilidade. Boff (2012) faz crítica a essas três pilastras.

No caso do “economicamente viável” o autor explica que ele é antropocêntrico, pois se centra no ser humano, como se não existisse a comunidade de vida. Toma como base a discussão de um desenvolvimento que é sinônimo de crescimento material. Ressalta a contradição existente. Assim expressa: “Desenvolvimento e sustentabilidade obedecem a lógicas diferentes que se contrapõem. Assim o desenvolvimento é linear, gera desigualdades – riqueza de um lado e pobreza de outro – e privilegia a acumulação individual” (p. 46).. Vem o termo desenvolvimento do campo da economia política industrialista/capitalista. Por outro, a lógica da sustentabilidade é circular e do incluso. Advém do campo da Biologia e da Ecologia. Representa a busca da tendência ao equilíbrio dinâmico, à cooperação e à coevolução, representando a interdependência de todos com todos, garantindo a inclusão de cada um, até dos mais fracos.

É dessa lógica de sustentabilidade que queremos resgatar, ou seja, de inclusão, da busca de um equilíbrio, dando a todos os Campi as mesmas possibilidades de concorrer ao cargo de Professor Associado. 

Considerando “Desenvolvimento socialmente justo”. Para Boff (2012), o atual desenvolvimento industrial capitalista não pode ser considerado como justo quando as injustiças sociais mundiais estão às vistas de todos. Impossível pensá-lo como justo dentro do atual paradigma de produção e consumo. Como paradigma ideal e não como prática o autor põe em realce: Declaração da ONU sobre o Direito dos povos ao desenvolvimento de 1993, sendo esse considerado como integral.

O desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa ao constante melhoramento do bem-estar de toda a população e de cada indivíduo, na base da sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na justa distribuição dos benefícios resultantes dele (BOFF, 2012, p. 47).

No que trata do ambientalmente correto – acredita o autor que as referências à economia valem para o ambiente. O desenvolvimento está depauperando de forma perigosa a mãe terra, dificultando a sua autoregeneração. Destaca nos seus escritos: “Ao invés de falarmos dos limites do crescimento deveríamos falar dos limites da agressão à Terra e a todos os seus ecossistemas” (BOFF, 2012, p. 47). Daí o autor sinaliza para a categoria – Cuidado. Essa mais bem aprofundada em outro dos seus livros. O cuidado necessário: na vida, na saúde, na educação, na ecologia, na ética e na espiritualidade.

Eu acrescento para este post_content o cuidado com a nossa Instituição – UPE. Penso que escrever este post_content representa uma contribuição ao cuidado de si mesmo, dos outros, da terra e no caso da nossa Instituição. O cuidado com todos nós, colegas, que poderiam ter o mínimo de acesso a concorrer ao cargo de Professor Associado.

Parafraseando Saint-Exupèry em o pequeno príncipe e mesclando o pensamento do existir. Somos mais do que responsáveis por aqueles que cativamos.  Contribuímos para o bem-estar do outro e de nós mesmos/as. Essa candura não pode ser perdida de vista.  Foram nas leituras moscovicianas que me fez pensar sobre a importância da candura. Como diz Moscovici (2007) os ambientalistas tinham o gesto de candura para com a natureza, com a mãe terra. Se observarmos as lutas travadas por esses movimentos e pelos movimentos de sindicatos em tempo e espaço vivido, representam cuidados com todos que estão ao seu derredor. Cuidado que muitas vezes levam a se expor.

E eu resolvi, nesse momento, me expor, como associada ao sindicato ADUPE.  Essas interlocuções representam o que considero ser justo para todos, socialmente adequado, para o cargo de Professor Associado. Acredito que esse cuidado pode gerar elos e laços formativos de história de vida pessoal e profissional.  Os laços têm os seus formatos e tamanhos, maneiras de serem amarrados, mas podem criar elos. É preciso buscar esses elos nas nossas recordações referências de histórias de vida e formação, como bem coloca Josso (2004). 

Retomo aos argumentos iniciais que o critério principal à promoção a esse cargo docente de Associado na UPE deveria estar relacionado a essas lutas. Lutas que se encetam nas dimensões de ‘ensino – pesquisa – extensão’. É essa triplice que a Universidade se diz propor como foco de inovação da Instituição e acredito que é sobre essas dimensões que a seleção deve-se ficar centrada, sendo os demais itens coadjuvantes do processo seletivo.

As minhas reflexões têm também aporte nas referências em Morin (2001) quando expressa em seu livro intitulado: “A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento”.  Assim argumento que se quisermos mudar as nossas ancoragens quanto à seleção do Professor Associado seria sairmos do pensamento do peso ao professor Strictu Sensu e olharmos com firmeza quem são os professores/as eminentemente engajados na construção da luta por uma Universidade mais profícua nas dimensões norteadoras: ensino-pesquisa-extensão. É pensar de forma metafórica. A natureza não tem nada de verde e nem de cinza ela é […] ela é uma paleta infinita de cores (MOSCOVICI, 2007). São essas cores que precisamos enxergar nessa proposta de seleção para Professor Associado, expressa em outras possibilidades de se vê onde se encontra a essência da proposta em termos de Instituição.

Já sinalizei para vários argumentos como decorrido no post_content e continuarei a (re)argumentar, ainda neste post_content, esperando que o grupo sinalize para outras propostas, mas que não percam de vista que ela precisa ser uma proposta inclusiva de Campi e não para beneficiar um número restrito de Campi. Isto nunca poderá ser uma idéia sustentável.

Considerando que a UPE defende a tríplice (ensino-pesquisa-extensão) como foco de objetivos poder-se-ia dizer que é contraditório pensar no duplo: ensino-pesquisa ou no duplo ensino-extensão, ou até mesmo no duplo ensino-gestão. A não ser que se dê um novo significado e sentido aos elementos envolvidos. (a)Pesquisa – deve gerar a extensão; (b)A  extensão – deve gerar pesquisa; (c) O ensino – deve gerar pesquisa e extensão e ou extensão/pesquisa; (d) A gestão – deva ser interpretada à luz do fomento do ensino, pesquisa e extensão'. Assim a perspectiva toma  força!!!
Existe um item que a Universidade costuma solicitar que é buscar fonte financiadora como um item de avaliação. Esse item é importante, todavia não deve ser um obstáculo à promoção da seleção do Professor Associado. Não adianta o mesmo buscar as fontes financiadoras e não publicar os dados de pesquisa.

No meu entendimento a luta maior precisa ser nos registros de pesquisa, ensino, extensão, gestão, ou seja, em publicação.  Sem publicações nunca seremos reconhecidos, pelo simples fato de não existirem os registros. São importantes os registros em Qualis A e/ou B, é inegável, mas também não podemos deixar de reconhecer que outros acessos são fundamentais, como por exemplo, este post_content que é divulgado para a Instituição, acreditando que o mesmo possa suscitar em nós professores, colegas, amigos/as, um desejo de manter diálogos múltiplos, interativos e fecundos, em circuito de complementaridade.

Agradeço a todos/as que direto ou indiretamente na dimensão do existir provocaram esse movimento interativo na dimensão do pensar, sentir, agir para que o post_content fosse escrito, especialmente a Itamar, presidente da ADUPE, pelo convite. Espero que o escrito contribua com mobilizações ao processo de seleção interna ao cargo de Professor Associado da UPE, bem como de outras lutas que se fizerem necessárias. Precisamos dizer não a um processo de seleção que deixa todos os Campi inteirioranos à margem de uma possibilidade de concorrer ao cargo de Professor Associado da UPE. Isto não pode ser considerado como proposta sustentável. Pensem nisso! Vamos à luta! 

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo O cuidado necessário: na vida, na saúde, na educação, na ecologia, na ética e na espiritualidade. Petrópolis-RJ: Vozes, 2012. 296p.

______. Sustentabilidade. O que é – O que não é. Petrópolis-RJ: Vozes, 2012. 200p.

JOSSO, Marie-Christine. Experiência de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2004.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

MOSCOVICI, Serge.  Natureza: para pensar a ecologia. Rio de Janeiro: Mauad X; Instituto Gaia, 2007. 254p. (Eicos).

SAINT-EXUPÈRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Rio: AGIR, 1974.

Tonny
Author: Tonny

Comente ou reporte um erro

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *