Recursos sobram, mas falta pessoal nos hospitais universitários
Na unidade não falta dinheiro, segundo João Veiga, e poderia haver uma sobra de R$ 300 mil por mês para investimentos
13/08/2013 – Renata Coutinho, Folha de Pernambuco
As complicações de gerenciamento do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) são tantas, que podem ter afastado os concorrentes ao cargo de novo superintende do complexo hospitalar, que encerraram suas inscrições no último dia 5, e que contaram com apenas dois interessados. No hospital não falta dinheiro, segundo João Veiga, e poderia haver uma sobra de R$ 300 mil por mês para investimentos, o que inexplicavelmente não acontece. A falta de recursos humanos é a justificativa para a extinção de 253 leitos, sendo 124 no HUOC, 25 no Pronto Socorro Cardiológico (Procape) e 104 no Cisam.
Tanto o HUOC, administrado pelo Estado, quando o Hospital das Clínicas (HC), mantido pelo Governo Federal, estão em fase de transição para novas gestões. Diferente do que muita gente imagina, a falta de investimento nas unidades ficou no passado e cada um recebe de R$ 60 a R$ 65 milhões por ano, valores suficientes para suprir a necessidade de cada um dos centros médicos. “O problema não é financeiro, é de recursos humanos”, frisou o superintendente do HC, George Telles, que entregará o cargo para o médico Frederico Ribeiro, nos próximos dias. E que enfatiza: faltam profissionais de todo tipo, até para consertar os elevadores. A idosa Teresinha Santos, 76 anos, mesmo com asma, teve que subir quatro andares de escada. A circulação de Rita Maria da Silva, 73, também foi prejudicada: ela precisava de cadeira de rodas para se locomover.
Telles fez questão de relembrar como encontrou o HC há seis anos, quando assumiu a gestão. “O cenário era extremamente negativo por conta do financiamento. O hospital tinha uma estrutura muito ruim, tinha mais de 30 anos de vida, e ao longo do tempo sempre foi subfinanciado”, comentou. Ao longo o tempo o plano de reestruturação dos hospitais universitários apontou caminhos para o melhoramento das unidades baseado nos pilares do financiamento, recuperação do parque tecnológico e investimento em recursos humanos. Foi com essa estratégia que o HC pulou do 25ª lugar no ranking dos hospitais universitários para o 7ª e subiu seu financiamento de R$ 32 milhões para R$ 64 milhões.
Irregularidades e problemas nos hospitais universitários
Barganha pelo atendimento, equipamentos novos nunca utilizados, além de incompatibilidade de cargos estão na lista
13/08/2013 – Renata Coutinho, Folha de Pernambuco
João Veiga fez relatório e diz que não se pode gerir uma unidade hospitalar de "costas para a população"
Diversas irregularidades e mau gerenciamento do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), e de outros dois equipamentos do complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE) – o Pronto Socorro Cardiológico (Procape) e o Cisam – foram revelados em um diagnóstico produzido pelo médico e atual superintendente, João Veiga. Encomendado pelo Governo Estado e concluído no último dia 5 de agosto, mostra uma situação que aponta absurdos. Entre as irregularidades, estão a barganha pelo atendimento, equipamentos novos nunca utilizados, além de incompatibilidade de cargos. O documento tem como finalidade propor alternativas para melhorar o futuro das unidades, mas não apresenta culpados. O relatório deve ser apreciado pela UPE até o dia 25, mas o prazo não foi confirmado pela reitoria da universidade. Com exclusividade, João Veiga, antecipou à Folha de Pernambuco alguns pontos do documento.
O diagnóstico surpreendeu ? O que a gente esperava era um problema de gestão, e o que a gente diagnosticou foi desobediência à lei. É surpreendente a perda de dinheiro, quando você tem 253 leitos fechados. É uma perda enorme de dinheiro.
Por que o complexo hospitalar é ligado à Secretaria de Ciência e Tecnologia e não à Saúde, e de que forma isso prejudica à gestão? Só Pernambuco tem essa peculiaridade. É uma coisa muito difícil de compreender, já que todas as AIHs (Autorizações de Internamento Hospitalar) quem gerencia é a Secretaria de Saúde. É a base da nossa renda: 90% do que entra é das AIHs. Então repasses financeiros, incentivos, pagamentos da AIHs, tudo é pela Secretaria de Saúde.
O diagnóstico apontou quais problemas graves de gestão no Hospital Universitário? Primeira (coisa grave) foi identificada nas eleições diretas para diretor, porque se barganhava para poder se eleger. Se barganhava com coisas inaceitáveis. A gestão do HUOC,durante a campanha, cedeu 10% das consultas e dos exames à Associação dos Servidores da UPE. Em vez de se pegar todas as consultas de exames e oferecer para a população, era repassada 10% para a associação para eles marcarem com quem eles quisessem sem oferecer à população. Isso está contrariando todas as leis de ética e do próprio SUS. Os exames e consultas já são poucos e deve ser pra todo mundo.
Há outros tipos de barganha? Existem casos graves administrativos. Nós descobrimos chefes de serviço dentro do Procape. O médico é chefe do serviço de uma clínica dentro do Procape, e chefe e dono de clínica no setor privado, que tinha convênio com o Procape. Isso é vedado pelo SUS. A Lei 8080 é bem clara. Isso é conflito de interesse. Quando você determina conduta dentro do SUS e fluxos dentro do SUS você não pode ter isso.
Qual irregularidade chamou mais a atenção? Nós descobrimos uma unidade dentro do HUOC que não tem dentro do organograma do Oswaldo Cruz. Essa unidade consegue captar R$ 2,5 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia para fazer obras dentro Oswaldo e comprar equipamentos que não precisava. Nem foi inaugurado prédio e, o material que foi comprado tá lá, nem foi usado. Descobrimos também uma máquina de DNA encaixotada dentro do hospital. Ninguém entende porque não se usa. Essa máquina ia resolver a vida de milhares de pernambucanos e de parte (das demandas) do judiciário de Pernambuco.
Qual o senhor acredita que seja o grande desafio da gestão hospitalar universitária? Eu acho que é quebrar a situação de conforto. Dos chefes, diretores. Não se pode gerir um hospital de costas para a população e para o SUS.