Rosa Luxemburgo: um sorriso à vida

Por Ruth Ignácio*

A vida de Rosa Luxemburgo, nos intensos 48 anos vividos, é um exemplo de perseverança e determinação que nutre até hoje as reflexões sobre o papel da sociedade em que vivemos e a tarefa na construção de outra sociedade possível. Ela dizia que quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.

Rosa foi uma figura marcante e, por isso, provocou a ira de muitos setores, desde os conservadores – o que era naturalmente esperado – até setores da esquerda. Os chamados marxistas ortodoxos não aceitavam modificações nos modelos de luta que haveriam de ser travadas. E os marxistas revisionistas viam a revolução como um instrumento a ser conquistado por meio do parlamento, dentro das regras construídas pelas elites, barganhando melhorias nas condições de vida de trabalhadores e trabalhadoras.

Guerra x Trabalho

Dentre os diversos temas tratados por Rosa Luxemburgo, dois merecem destaque em virtude da atualidade. O primeiro diz respeito à guerra e à militarização da vida e o segundo à forma de trabalho como proposta de emancipação de homens e mulheres na produção da riqueza.

Em suas análises sobre o poder militarista como instrumento do capitalismo, Rosa expõe os princípios que justificam, sob o olhar das elites, a guerra: “1º serve para defender os interesses nacionais em concorrência com outros grupos nacionais; 2º constitui um campo privilegiado de investimento tanto para o capital financeiro como para o capital industrial; e 3º no interior é útil para assegurar o seu domínio de classe sobre o povo trabalhador e todos os interesses que, em si, nada têm de comum com o progresso do capitalismo”.

Uma das preocupações centrais de Rosa, no que se refere ao militarismo e à guerra, era, justamente, o preço pago pela população por uma guerra que, em verdade, só dizia respeito aos interesses das elites. Os meios de produção foram aniquilados em proporções enormes.

Milhões de trabalhadores – a melhor e mais competente geração da classe operária – foram massacrados. Aos que ficaram vivos, ao voltarem para casa, espera-os a escarnecedora miséria do desemprego. A fome e as doenças ameaçam aniquilar até a raiz a força do povo.

A bancarrota financeira do Estado, consequência do enorme fardo das dívidas de guerra, é inevitável.

Os interesses que se escondem nos discursos fervorosos de defesa nacional, e que contaminam o imaginário da população, garantem ao capitalismo a intensificação da produção de armamentos, a aniquilação de países e povos, a destruição dos valores e hábitos de culturas inteiras e a fragilização de toda e qualquer forma de organização dos trabalhadores e trabalhadoras. Rosa salientava, ainda, que a guerra, além da destruição de cada país, promovia o ódio entre trabalhadoras e trabalhadores do mundo. Dessa maneira, o capitalismo desestruturava o fundamento da luta de classes, fazendo com que trabalhadores e trabalhadoras do mundo se destruíssem em nome dos interesses econômicos e políticos.

Emancipar e cooperar

O outro tema relevante é o processo de emancipação de homens e mulheres na produção e distribuição da riqueza produzida. Mas por que Rosa Luxemburgo estava tão preocupada com esse tema? Em primeiro lugar, porque o princípio central de uma sociedade socialista se efetiva quando a produção da riqueza está nas mãos de quem produz essa riqueza, isto é, a classe trabalhadora. Em segundo lugar, Rosa analisava os efeitos desastrosos da guerra nas condições econômicas da Alemanha e de todos os países que estavam envolvidos na I Guerra Mundial. Sem dúvida, o desemprego assolava aqueles e aquelas que sobreviveriam à guerra. Dizia: “o trabalho assalariado e a dominação de classe devem ser substituídos pelo trabalho cooperativo. Os meios de trabalho não devem mais ser monopólio de uma classe, mas tornar-se bem comum”.

Em janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram assassinados em Berlim por oficiais e soldados das unidades militares contrarrevolucionárias. Mas qual é a importância do pensamento de Rosa Luxemburgo nos dias atuais, depois de quase 100 anos de seu assassinato? Podemos refletir sobre o sentido das guerras que dominam o mundo. Quem faz as guerras? Quais são os motivos dessas guerras? Quais os efeitos para a humanidade? A fome, a miséria, o desemprego, o desencanto, as doenças, o sofrimento de milhares de pessoas que observam suas vidas e seus países destruídos em nome de uma paz. Mas paz de quem? Paz para quem?

* Ruth Ignácio – professora na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS e no Colégio Marista Rosário, Porto Alegre, RS.

Artigo publicado na edição nº 414, jornal Mundo Jovem, março de 2011,


Rosa Luxemburgo

• Rosa Luxemburgo nasceu no dia 5 de março de 1871, na cidade de Zamosc, parte da Polônia ocupada pela Rússia. Filha de um comerciante de madeira, foi educada em Varsóvia. Tornou-se politicamente ativa nos grupos poloneses de esquerda. Na Universidade de Zurique, primeiro estudou Ciências Naturais, depois Direito e Economia Política. 

Tonny
Author: Tonny

Comente ou reporte um erro

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *