15 de outubro – DIA DO PROFESSOR
Dia da Construção
Fonte: JC – Publicado em 15.10.2004
O Brasil só será o País que queremos no dia em que, ao nascer uma criança, seu pai a tome nos braços e diga: “Quando crescer, será professor”. E não será o País que queremos enquanto as pessoas acharem graça dessa frase, como se ela fosse piada, ou pior, como se essa profissão não merecesse ser sonhada por um pai para seu filho. Mas se a frase é uma piada, não é piada o fato de o Brasil não ter futuro enquanto assim pensarmos.
Deveríamos mudar o título de professor para pedreiro do Brasil, engenheiro do futuro. Ao limitarmos a profissão à educação, desvalorizamos a real dimensão do seu papel. Vinculamos os professores ao mundo das letras, dos números, das idéias, sem percebermos que por trás dessa subjetividade está a objetividade de um país sendo construído. Ou não.
Os engenheiros e operários constróem coisas em pedra, mas os professores fazem os operários, os engenheiros e todos aqueles que constróem o Brasil, pelo ofício de cada um e pela cidadania que vem da educação. Mesmo assim as pessoas riem da idéia do pai que sonha em ter um filho professor.
O Brasil não trata os professores como os construtores do seu futuro. Nenhum profissional com a mesma formação recebe salários tão baixos, nem é tão pouco valorizado e respeitado. O dia da homenagem a 2,5 milhões de professores do ensino básico é tratado como um feriado a que eles têm direito, nada mais.
Primeiro, porque o Brasil tem uma preferência pelo produto material sobre o produto cultural. O nome “brasileiro” quer dizer “aquele que faz pau-brasil”, diferente dos sufixos usados para as demais nacionalidades, que terminam em “ês” ou “ino”. E o nome é professor, não “ensineiro”, como pedreiro, engenheiro. Segundo, por causa do desprezo histórico da elite por seu povo: quando a educação pública era para poucos, os filhos das elites, o professor era valorizado, quando a matrícula se espalhou para o povo, o professor foi abandonado. Terceiro, após terem se endividado tanto para construir indústria, energia, transporte, os governos se dizerem impossibilitados de valorizarem seus professores, pagando-lhe salários dignos. Por último, depois de décadas de menosprezo, os professores parecem ter desistido, perdido o entusiasmo, de certa forma abandonado a dedicação, justificando em contrapartida os baixos salários e a pouca valorização.
Tudo isso poderia mudar, como se tentou no começo do governo Lula, com um programa de Certificação Federal do professor. O professor deixaria de ser preocupação apenas municipal e estadual, e se tornaria preocupação federal. Seria instituído um piso salarial nacional, pago com recursos federais, e um piso de conhecimento nacional, avaliado por concurso federal. Mas o Brasil tem tão pouca sensibilidade para o assunto que a primeira pergunta que se faz é quanto custaria e de onde viria o dinheiro, algo que não se pergunta quando os fins são outros. O mais surpreendente é que o custo seria pequeno, e muitas vezes menor do que o custo de não fazê-lo.
Porém, para conseguirmos essas mudanças, seria preciso que os governantes do futuro – as crianças que acabam de nascer – já nascessem no futuro que desejamos. Para construir o futuro de uma população educada seria preciso que a população do presente já fosse educada. Um nó que o Brasil não consegue resolver.
Talvez a saída seja substituir o dia do professor, no país que não lhe dá valor, pelo dia da construção do Brasil futuro, revelando que é o professor quem faz a nação.